História da Geografia do Curso de
Pós-Graduação em Geografia,
UNESP, Rio Claro, 1984.
Tentemos um aprofundamento, passando a palavra aos especialistas. Brugger, no seu “Dicionário de Filosofia” (4) abre o verbete “conhecimento”, dizendo que “O conhecimento” é um dado primitivo da realidade, e enquanto tal, indefinível”. Não obstante, o tema é bastante discutido e o autor salienta que o sujeito, através de sua faculdade cognoscitiva, realiza uma “assimilação” do objeto que se dá mediante a criação de uma “imagem” do objeto no sujeito (5). Quanto ao conceito de Geografia, se apelarmos para o geógrafo, podemos citar a “clássica” definição de De Martonne (1950, p.24) (6) para qual a geografia estuda “la repartition à la surface da globe des phénomènes physiques, biologiques et humains, les causes de cette répartition et les rapports locaux de les phénomènes”.
È evidente que estas definições não são satisfatórias, mas bem podem servir de ponto de partida. Para não nos alongarmos mais (já que não se admite, hoje em dia, a validade final das “definições”), podemos assumir a posição de que o conhecimento geográfico consistiria na apreensão das realidades espaciais da superfície terrestre à luz da ciência geográfica. Devemos lembrar, contudo, o fato de que se muitas outras ciências estudam fenômenos da superfície terrestre, a Geografia, pelo seu método, teria uma preocupação original quanto à problemática espacial no sentido de indagar a natureza, a freqüência, as causas e as relações das distribuições espaciais (7).
Como teria evoluído, em linhas gerais, o conhecimento geográfico? Historicamente, esse conhecimento teria sido fruto, inicialmente, de um conhecimento espontâneo, visando ao atendimento de necessidades básicas de sobrevivência. Daí os registros (inicialmente orais) de itinerários (8). Com os gregos, o conhecimento geográfico passa a ter um caráter reflexivo. A reflexão filosófica grega preocupa-se com a concepção da Terra, do Homem, do Universo, etc. Também se estuda o problema do tamanho, forma e representação da Terra. As viagens e seus relatos também pertencem a essa etapa que assume características às vezes mais “filosóficas” ou mais “práticas” (9). Essa linha vai se desenvolver pela Antiguidade, Idade Média e Moderna e será beneficiada (e modificada) pela expansão do horizonte geográfico, com as viagens de descobertas, e pelos progressos técnicos. Todos esses progressos que resultam na evolução geral de muitas ciências culminam, do ponto de vista da Geografia, com a formação de uma Geografia científica autônoma, no século XIX, notadamente sob a égide dos alemães Humboldt, Ritter e Ratzel. Franceses e anglo-americanos contribuem, posteriormente, para a sua consolidação (bem como para as várias “ interpretações” da Geografia como ciência).
Embora tenhamos assinalado essas etapas (reflexiva, filosófica e científica) do conhecimento geográfico, é importante assinalar que elas não constituem categorias mutuamente excludentes. Na realidade, elas se completam sincrônica e diacronicamente. Ademais, “o geógrafo coloca-se em face do Mundo como analista, mas um analista identificado com o objeto da sua análise, de modo que essa análise supõe um certo estado de integração da sua pessoa com a paisagem estudada” (10).
Na atualidade, o conhecimento geográfico é entendido, de diferentes modos, de acordo com várias correntes que podemos consubstanciar em quatro principais: (11)
1) “Geografia Tradicional”, consolidada no século passado e que teria caráter descritivo, ideográfico e informativo. Pretenderia fazer a “síntese”.
2) “Geografia Quantitativa” e/ou “Teorética”, ou a “Nova Geografia”. Surgiu na década de 50 (consolidada nos anos sessenta). Faria oposição à tradicional. Prende-se, com rigor, ao método científico e apresenta preocupação filosófica – Emprega a quantificação, usa recursos da tecnologia moderna (computação, sensoriamento remoto, etc.).
3) “Geografia Radical”, ou “Crítica”, Surge na década de sessenta como reação ao excesso de quantificação, visando combater a suposta “neutralidade” da Geografia. Embora seu método de análise corrente seja o marxista, muitos de seus mentores não se prendem à ortodoxia. Há autores que vão desde os “neo” (e “para”) – marxistas até várias tendências anarquistas. Destaca-se, nesta corrente, o seu caráter crítico e combativo no sentido de colocar a Geografia a serviço da sociedade.
4) A “Geografia Humanista” ou “Fenomenológico”, também do mesmo período, procura colocar o homem como centro de todos os processos. O ambiente e o homem seriam um todo inseparável. È notável sua preocupação com os valores éticos (12).
Notas:
(1) Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. p.362.
(2) Ibid. p. 684.
(3) Ibid. p. 683.
(4) Walter Brugger, Dicionário de Filosofia.S.Paulo: EPU, 1977, p. 99.
(5) Ibid. p. 100-101
(6) Emmanuel De Martonne, Traité de Géographie Physique. Paris: Armand Collin, 1950, p.24.
(7) O assunto é muito bem explanado em Ronald Abler; John T. Adams e Peter Gould, Spatial Organization.The Geographer’s View of the Word.Englewwod Cliffs: Prentice Hall, 1971. Na página 56, lê-se ( em itálico): “Why are spatial distributions structured the way they are?”.
(8) Para o desenvolvimento destas idéias, bem como de muitas outras que permeiam o presente texto, valemo-nos das anotações das aulas ministradas pela Profa. Dra. Lívia de Oliveira, na disciplina Epistemologia e História da Geografia, Curso de Pós-Graduação em Geografia, UNESP-Rio Claro, 1984.
(9) Nesse sentido é interessante notar que a obra de Estrabão, fruto de suas viagens e especulações, com muitas observações essencialmente práticas, traz no exórdio do Livro I : “Creemos que también la geografia, que ahora nos proponemos considerar, es própria, no menos que cualquier outro estúdio, de la profesión del filósofo” Estrabon, Geografia. Prolegómenos; trad. y notas Ignácio Granero. Madrid: Aguilar, 1980, p. 5.
(10) Eidorfe Moreira, Idéias para uma concepção geográfica da vida. Belém, 1960, p.42.
(11) Ver nota (8) e Antonio Christofoletti, As perspectivas dos estudos geográficos, in: Perspectivas da Geografia, org. A. Christofoletti, S. Paulo: Difel, 1982, p. 11-36.
(12) Dentro de uma escolha puramente pessoal ( fruto de nosso “momento”...) poderíamos citar, como obras representativas dessas quatro vertentes, as seguintes: 1.a) Paul Vidal de La Blache. Princípios de Geografia Humana. Lisboa: Cosmos, 1954. 2.a) As várias contribuições contidas em Christofoletti, op.cit. (11). 3.a) Yves Lacoste, La Géographie, ça sert d’abord à faire la guerre.Paris: François Maspero, 1976. 4.a) Yi-Fu Tuan, Topofilia-um estudo de percepção, atitudes e valores do meio ambiente.Trad. de Lívia de Oliveira. S.Paulo: Difel, 1980. Sister Anne Buttimer, Values in Geography. Resource Paper n. 24. Ass. of American Geographers, 1974.
A ciência tem como movimento do pensamento, o real, caminhando na análise, que vai de singular em singular até a forma que é um postulado, teoria ou lei. Já a arte, o movimento do pensamento vai do universal, que é a forma até o singular, que é o real. Dessas concepções torna-se necessário a compreensão da situação relativa ao trinômio: verdade, evidência e certeza. O problema da verdade se refere aos estados de espírito, veja o slide representativo a seguir:
A partir desses conceitos da filosofia da ciência orienta-se o conhecimento e a inteligência para que os processos sejam dedutivos, daí então se faz presente a compreensão das categorias que permitem a dedução. Região, Paisagem e Território, passam a ser categorias que vão permitir que a dedução seja eficiente, eficaz e efetiva, pois essas categorias permitem o olhar respaldado na teoria de sistemas e dos conjuntos.
No entanto essas categorias somente serão bem aplicadas quando se trabalha com conceitos que já estão estabelecidos com postulados também aplicados.
Olivier Dolfuss em sua obra, paradoxal, Análise Geográfica busca o estatuto científico da Geografia. Mas apesar do esforço filosófico não consegue teorizar. Porém sua contribuição para a aplicação de conceitos que permitem o viés técnico e palpável da leitura do cenário geográfico é de vital importância para a Geografia se firmar como Arte e não como Ciência, lembrando de que esse não era o propósito da obra. A análise requer indução para a teorização, o que parte do singular para o formal.
A geografia é requisitada para descrever um dado cenário e seus elementos correlacionando uns com os outros, formando um todo, ou como população ou como comunidade, procurando como bem estabeleceu Hartshorne a procura demonstrar as diferenças, mesmo que seja, aquilo que, as nossas vistas, insignificantes.
Para descrever um cenário que contém uma população ou uma comunidade, se requer a organização lógica do raciocínio pautado na dedução. Dedução das categorias, mas, o quê no cenário se deve buscar? É aí nesse momento que recorre ao que Dolfuss trouxe como estrutura conceitual de fundamental importância para que a descrição seja eficiente, eficaz e efetiva. Conceitos que serão transversalizadas por níveis privilegiados das estruturas geográficas, lembrando que as originalidades requerem a observação do que está banalizado pelo olhar do senso comum, ou mesmo, do bom senso. A localização do evento é fundamental para delimitar os limites ou limiares que o circundam, e assim elaborar a taxonomia com vistas a abstrair e não deixar de valorizar a distribuição e as diferenças dos elementos contidos no cenário.
A eficiência será dada ao argumento sendo referenciado por essas categorias, porém com o uso dos conceitos a eficácia será firmada para dar o arcabouço do argumento. A efetividade somente será possível se houver a aplicação da tecnologia que permeia a leitura dos elementos que estão contidos no cenário ambiental, ou seja, no cenário geográfico.
BIBLIOGRAFIA
DOLFUSS, Olivier. A análise geográfica. Tradução de Heloysa de Lima Dantas. São Paulo, Difusão Européia do Livro: Coleção Saber Atual, 1973.
CERVO, Amado Luiz e BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. 2ª edição. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1977.
JOLIVET, Régis. Curso de Filosofia. Tradução de Eduardo Prado de Mendonça. *ª edição (revista). Rio de Janeiro, Livraria Agir Editora, 1966.
orientação: Paulo Rosa
1.1 Introdução
Este estudo visa os resultados na Natureza da pressão que o homem tem exercido sobre ela. Por Natureza entendemos como sendo o corpo de elementos e fatores que interagem de forma espontânea, cujo arranjo se dá a partir das relações interativas entre os elementos inseridos no ambiente de maneira harmônica. Essa Natureza é limitada, e mais limitada ainda se torna quando está confinada em um território, como é o caso de uma área interfluvial numa Unidade de Conservação como Reserva Biológica, cujo entorno é de elevado teor de atividade rural (Uma sociedade ou comunidade pode ser classificada como rural, e não urbana, pelos seguintes critérios, que indicam áreas de um continuum: menor densidade demográfica, menor diferenciação social, menor mobilidade social e espacial; índices mais baixos de mudança social; agricultura como ocupação principal; posse da terra como o centro convergente do sistema político-econômico in SILVA, Benedito. Dicionário de Ciências Sociais, FGV, p.1090). A natureza dessa área perpassa da paisagem ao território, pois convivem lado a lado as plantações que são territorializadas, com a restauração do ambiente natural, onde também a própria paisagem natural, em sua tentativa de se restabelecer, está cercada, inserida num território. Restabelecer é a expressão apropriada, pois esta área já foi de uso agrícola e extração de madeira, agora, dada à própria sorte e aos olhos fiscalizadores, começa por si só tornar-se natural, espontânea, sem intervenção humana.
A área pesquisada é a Unidade de Conservação Reserva Biológica Guaribas (REBIO Guaribas). Nosso trato com o ambiente advém de atividades exercidas no local desde o início do ano de 1997, e após colaboração intensa a pesquisadores credenciados na Unidade, consideramos então ser este o local promissor para elucidação e prática de nossa pesquisa e nosso elo científico, forjados durante o trajeto como estagiário do Laboratório de Geografia Aplicada no Setor de Informações Geográficas Aplicadas do departamento de Geociências da UFPB e, especialmente, como estudante do Bacharelado em Geografia da UFPB campus I.
A REBIO Guaribas situa-se geograficamente na Zona da Mata do Estado da Paraíba e precisamente nos municípios de Rio Tinto e Mamanguape. A Unidade é compartimentada em três áreas distintas, duas com uma possibilidade de intercomunicação e uma afastada. São elas a SEMA I, II e III (ver Figura 1). A SEMA I e II localizam-se em Mamanguape, a SEMA III em Rio Tinto. Nossa pesquisa foi efetuada apenas nas áreas I e II. Para uma melhor compreensão dos limites e da localização, além dos antecedentes territoriais deste ambiente, importamos abaixo um trecho do Plano Emergencial de Manejo (1995), bastante longo, mas necessário, pois traz minuciosamente tais informações. Esclarecemos que as partes do texto original que remetem a anexos e figuras foram omitidas, não sendo importantes para este estudo.
Figura 1: Croqui de localização das três áreas da REBIO Guaribas.
Adaptado do Plano Emergencial de Manejo (1995).
A Área I esta localizada no município de Mamanguape, aproximadamente entre as latitudes 6º40’ e 6º43’ S e as longitudes 35º07’ e 35º08’ W. Ela possui uma superfície de 616.4 ha e está limitada em linhas gerais ao Sul, ao Oeste e ao Norte pelas parcelas do Projeto Integrado de Colonização Rio Tinto (PIC Rio Tinto) do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, INCRA e ao Leste pela BR 101. Tem um perímetro de 14.070 m, (relação perímetro/superfície = 22.83, como comparação, na Reserva Biológica de Sooretama = 4.95) definido no Decreto por 11 pontos de referência.
A Área II é a maior e inclui a sede da Reserva, Está localizada no Município de Mamanguape aproximadamente entre as latitudes 6º41' e 6º45' S e as longitudes 35º07' e 35º12' W. Ela possui uma superfície de 3378.2 ha e está limitada em linhas gerais ao Sul pela estrada de acesso a Jacaraú (rodovia estadual PB 71), ao Leste pela BR 101, ao Norte pelas parcelas do PIC Rio Tinto do INCRA e a Oeste por um caminho limítrofe com terras da Fazenda Jardim da Usina Xuá Tem um perímetro de 45150 m (relação perímetro/superfície = 13.37) definido no Decreto por 32 pontos de referência.
A Área III esta localizada no município de Rio Tinto, aproximadamente na latitude 6º48' S e na longitude 35º06' W. Ela possui uma superfície de 327.0 ha e está limitada em linhas gerais ao Sul pela Cidade de Rio Tinto e parcelas do PIC Rio Tinto do INCRA, ao Norte e ao Leste por uma estrada de acesso ao campo de pouso, que liga a cidade de Rio Tinto com a BR 10 1 e com terras da Companhia Rio Tinto, e a Oeste com terras particulares totalizando um perímetro de 8446m (relação perímetro/superfície = 25.83), definido no Decreto por 7 pontos de referência.
A superfície total da Reserva é de 4321.6 ha e a soma total dos perímetros é de 67666 m. A superfície da Reserva equivale a um quadrado de 6573.5 m de lado com um perímetro de 26294m mostrando que a forma irregular da Reserva um longo perímetro a ser defendido e uma maior dificuldade em defini-lo. Dos 50 pontos que definem o perímetro das áreas no Decreto, só 5 puderam ser identificados com marcos de pedra no terreno. Os restantes pontos e linhas limitantes são identificados pelo pessoal da Reserva com base na diferença no desenvolvimento da vegetação entre as parcelas do PIC Rio Tinto e da Reserva, e no traçado das estradas ou trilhas. Em alguns limites onde não existe diferença de vegetação a divisa da Reserva fica indefinida. Por outro lado, as estradas e caminhos têm mudado seu traçado no decorrer do tempo, existindo, assim, discrepâncias entre os limites definidos no mapa e no terreno como no caso da BR 101, da estrada de Jacaraú (PB 71), do caminho que limita a Área II pelo lado Oeste, da estrada que limita a Área III pelo Norte e Leste e do caminho que limita esta área pelo Oeste.
A sede da Reserva encontra se na estrada de acesso a Jacaraú (PB 71), a aproximadamente 1 Km da BR 101 e dista 78 Km de João Pessoa. A sede dista 22 Km em linha reta do povoado de Jacaraú e 11 Km das cidades de Mamanguape e Rio Tinto, sendo esta última vizinha da Área III.
Além da sede, a Reserva possui um escritório administrativo na Mata do Buraquinho próximo a SUPES do IBAMA em João Pessoa.
Ao Norte da Área II e a Oeste da Área I, dentro da área de influência (10 Km do perímetro da Reserva), encontram se os pequenos povoados de João Pereira, Brejinho, Imbiribeira, Água Fria e Piabuçu.
Linhas de ônibus regulares partindo de João Pessoa atendem as cidades de Rio Tinto e Jacaraú. Esta última linha passa na porta da Sede.
Histórico e Antecedentes Legais
Na história da Reserva Biológica Guaribas podem se distinguir quatro períodos. O primeiro período, que vai de 1977 até agosto de 1981, incluí as negociações com o INCRA para destinar 20% das terras do PIC Rio Tinto à implantação de uma Estação Ecológica da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) em Mamanguape. Nestas terras a floresta tinha sido preservada como reserva legal em condomínio das parcelas do Projeto. Também nessa época iniciaram se contatos com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), para comprometer essa Instituição na implantação e no estudo da biodiversidade da Estação.
O segundo período, de 1981 a 1987, inicia com a autorização do INCRA para que a SEMA utilize as áreas SEMA 1 a 3 para implantar sua Estação Ecológica. A partir daí o INCRA abandonou a vigilância das terras, passando esta a ser feita pela SEMA. A corrupção dos funcionários da SEMA responsáveis pela Estação em Mamanguape, o interesse dos madeireiros em estender o desmatamento das parcelas do PIC Rio Tinto à área de reserva legal do projeto somados à atitude populista do Governador, interessado em distribuir essas terras improdutivas aos camponeses sem terra, e do Prefeito de Rio Tinto, querendo construir conjuntos habitacionais na Área III, ameaçaram seriamente a iniciativa de implantar a Estação Ecológica. A estas forças poderosas opuseram se a administração central da SEMA, principalmente o Secretário do Meio Ambiente Paulo Nogueira Neto, ONG's como a Associação Paraibana de Amigos da Natureza (APAN), que denunciou a destruição criminosa das florestas da Estação e as intenções do poder político regional; a UFPB e, finalmente, em forma decisiva, o Procurador da República, Eitel Santiago de Brito Pereira e a Justiça Federal na Paraíba que promoveram e julgaram a Ação Civil Pública contra a União e as pessoas diretamente responsáveis pela destruição das Florestas da Estação Ecológica de Mamanguape, em criação.
O terceiro período, de 1998 a 1990 caracteriza se pela contratação do atual chefe da unidade de conservação, pela expulsão dos infratores da Estação, a cricação da Reserva Biológica Guaribas, (a Estação Ecológica nunca chegou a ser criada formalmente) e a transferência definitiva das terras do INCRA para o IBAMA. A criação de uma reserva biológica em lugar da prevista estação ecológica, foi a opção encontrada pelo Diretor de Ecossistemas do recém constituído IBAMA, para assegurar a criação da Reserva, já que este tipo de UC não exigia que as terras pertencessem ao IBAMA para poder ser criada. Este fato consumido induziria o INCRA a sair da sua indecisão e formalizar a definitivamente doação das terras ao IBAMA, o que aconteceu pouco tempo depois. O nome Guaribas dado a REBIO refere se à extinção recente do Allouata belzebu na área, em conseqüência dos desmatamentos realizados para a implantação do PIC Rio Tinto. A escolha do nome sugere um compromisso de repovoar a Reserva com essa espécie e de reconstruir seus ecossistemas florestais, além de fornecer à Reserva um símbolo conservacionista para sua identificação.
O quarto período, de 1991 até o presente, inclui a implantação da Reserva com obtenção da infra estrutura, o início do funcionamento da Reserva, o desenvolvimento do Projeto Guariba e de projetos de pesquisa em parceria com a UFPB e a inclusão da Reserva no Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA).”
A ocupação colonial se deu nos grandes estuários paraibanos, inevitavelmente seguindo os cursos hídricos a montante ao longo das várzeas dos rios. Isso não é decorrente de fascínio estético, mas sim por puro princípio de sobrevivência em que, depois do ar, o elemento mais necessário a suprir a existência é a água.
Após as grandes investidas econômicas no litoral houve o adentramento no território. O que nos chama a atenção são as diversas investidas dadas sobre a paisagem de uma mesma área, e no nosso caso, a cidade de Mamanguape, que durante muito tempo foi a segunda cidade mais importante do estado da Paraíba. Isso se deu por conta também de sua atividade portuária em que a cana-de-açúcar formou a base estimulante da produção econômica, haja vista a presença da agroindústria açucareira em atividade até hoje. Mas o cerne da questão é que a visão do capital sobre a paisagem é de recurso apropriável e de sua transformação enquanto bem para mercadoria a ser consumida ou estocada enquanto capital.
A economia de mercado não atenta para a economia da natureza, logo não percebe que na acumulação de capital pode haver a desarticulação da natureza.Sobre essas premissas permeia-se a possibilidade de que no uso indiscriminado dos recursos gera uma tensão cuja estabilidade pode ser quebrada, alterando a fonte de suprimentos para a sobrevida.
A REBIO GUARIBAS, tanto no município de Mamanguape como no município de Rio Tinto, é um território ilhado, tanto no espaço como no tempo. A ocupação sobre a superfície em que hoje é constituída a REBIO, tem se dado em diversas circunstâncias: fonte extrativa de látex da mangabeira (informação oral fornecida por moradores mais antigos do lugar), pequenas lavouras de subsistência, extração de madeira, e no entorno, forte produção de mamão, abacaxi, e principalmente, cana-de-açúcar.” (Trecho retirado da Dissertação do Prof. Paulo Rosa que pesquisa o escoamento hídrico e sua relação com o meio como agente modificador da paisagem).
Devido à grande intervenção humana na natureza, estamos acompanhando como resultado dessa ação situações que podem ser consideradas como desastrosas, e muitas vezes com danos até irrecuperáveis que põem em risco a vida humana. Em muitas dessas ocorrências é o ser humano contra si próprio. A natureza por si só exibe uma característica de desestabilização, quando sujeita a uma força natural maior do que a que ela mesma pode suportar. Porém, dependendo do impacto, de sua freqüência e magnitude, o processo do equilíbrio dinâmico (Teoria da Geomorfologia que diz que um sistema natural é aberto e mantém troca de matéria e energia com os demais sistemas do universo e nessa troca, se houver variação no suprimento os sistemas envolvidos reagirão na tentativa de alcançar uma nova estruturação adaptada a essa nova condição - Christofoletti, 1980, p. 168) pode ficar comprometido. Por freqüência e magnitude, Almeida e Tertuliano in Cunha e Guerra (1999, p.117) compreendem como sendo os valores quantitativos envolvidos no fluxo dos sistemas ambientais. Neste ínterim buscamos os pontos possíveis de desestabilização, ou seja, os pontos mais vulneráveis às forças exóticas que procuram estabelecer novo arranjo ao ambiente, sendo por isso forças modificadoras.
Nesta área observamos, grosso modo, modificações nos ambientes que inevitavelmente poderiam ter sido evitadas. Erosões, perda de solo e problemas hídricos elencam parte de problemas que ali ocorrem e chamam nossa atenção juntamente com sua peculiaridade de conviver lado a lado com a natureza tentando recuperar-se, ou seja, uma área de preservação e outra de agricultura intensiva. Neste tocante, essa peculiaridade tornou-se chamativa para detectarem-se pressões a que esse ambiente tem recebido.
Para responder a indagação que essa pesquisa se propôs a executar, determinamos duas hipóteses. A primeira delas enuncia que o desequilíbrio do fluxo de matéria-energia entre os conjuntos naturais, cujos resultados incidem numa morfogênese maior que pedogênese, influi na vulnerabilidade do relevo da REBIO. A segunda hipótese evidencia como a pressão no meio ambiente exercida através de intervenções artificiais tensionam elementos dos conjuntos naturais, causando desequilíbrio no sistema e levando à ocorrência de uma morfogênese maior que pedogênese.
Nosso objetivo foi composto tendo em mente testar essas duas hipóteses, o que significa determinar os fatores que implicam na vulnerabilidade dos conjuntos naturais, inseridos no território da REBIO Guaribas, os quais dependem da matéria e energia da paisagem do seu entorno. Separamos a pesquisa em duas etapas, sendo que na primeira delimitamos a área de estudo; selecionamos documentação iconográfica da região, levantamos documentação bibliográfica sobre a temática relativa à questão vulnerabilidade ambiental e, por fim, destacamos na poligonal as sub-bacias e micro-bacias como unidades de planejamento. Na segunda etapa caracterizamos o ambiente geograficamente; verificamos os pontos em que estavam ocorrendo pedogênese e morfogênese; detectamos as áreas afetadas pela ação de desequilíbrio ecodinâmico; determinamos a diferenciação localizada entre pedogênese e morfogênese relevando as intervenções artificiais na paisagem que estão deixando o sistema vulnerável. Resolvemos restringir a uma linha de observação o resultado da vulnerabilidade do ambiente, isto é, vulnerabilidade do relevo e suas conseqüências nesse sistema. Essa restrição é conferida às nossas possibilidades de observação.
1.2 Referencial teórico-conceitual
Dentre os trabalhos relativos ao meio ambiente aos quais tivemos acesso, optamos por aqueles que nos orientassem para o uso de técnicas para se perceber a realidade e aferir sua consistência para se interpretar tais percepções. Tanto as teorias como os conceitos vão sendo aprimorados à medida em que a realidade que eles representam vai sendo percebida com mais clareza. Essa clareza consiste no conhecimento do que se observa em toda sua extensão – isso inclui suas relações com o que lhe é externo também, além da sua natureza e geometria.
Nesta pesquisa lançamos mão do processo lógico indutivo. Segundo Jolivet (1966, p.75) indução é “uma espécie de análise, uma vez que decompõe o objeto complexo, dado à experiência, com fim de apreender nele a essência, a causa, o princípio ou lei”. A análise por ser uma decomposição do todo em partes, pode ser aplicada em qualquer tipo de estudo e pesquisa, e tem como efeito a possibilidade de separar cada item de maneira que este possa ser visto de forma isolada ou em conjunto. De maneira isolada, estática, como diz Nimer (1988), se tem uma conotação positivista da observação, e numa abordagem considerando a dinâmica, ou seja, a interação, se tem uma conotação funcionalista da observação.
Adentrando mais precisamente pela Análise Geográfica, utilizamos como referência Dulfuss , que considera “seja qual for a natureza dos fenômenos analisados, o geógrafo adota o mesmo procedimento a fim de decompor o seu domínio”. Desse trecho, percebemos que o domínio estudado deve ser decomposto, analisado. Então, para analisar o domínio da REBIO, nos pautamos na teoria Ecodinâmica e nos conceitos por ela trabalhados.
Percebemos a paisagem a partir dos conjuntos naturais os quais contemplam o biótico. O homem ao tornar-se um agente interventor, capaz de alterar drasticamente os outros conjuntos, altera também os elementos do conjunto ao qual está inserido. Por isso nesta pesquisa propomos a compreensão das relações entre esses conjuntos.
A compreensão dessas relações só foi possível a partir dos dados coletados, pois acreditamos serem estes os indicadores mais fortes das tendências de um fenômeno contínuo, que não tem um padrão fixo, como os fenômenos na natureza, seja ela de caráter humano ou não. Isso pode soar como um modo positivista de se fazer ciência, entretanto no quadro positivista, como sugere Nimer (1988), o intelecto fica subordinado à observação. Para não incorrermos nessa subordinação, empregamos uma expressão funcionalista, também sugerida por Nimer (1988). Essa concepção, ou melhor, esse quadro, como refere o Autor, adota a idéia totalizante da observação dos dados, mas desloca essa observação para sua essência, não da aparência que é algo estático e sim da sua posição sistêmica. Desse modo investigamos não apenas o padrão dos fenômenos, mas principalmente sua interação funcional, para podermos indicarmos uma ação construtiva no todo. No quadro positivista cada elemento é visto por ele só, sem interações, nem dinâmica.
O uso da teoria talvez seja uma das partes mais importantes do trabalho científico, pois dela se obtém a sustentação para se inferir, refutar ou acatar uma proposição hipotética. No nosso caso, o uso da teoria serviu para aplicação e testagem enquanto concepção para se interpretar o objeto de estudo.
A vulnerabilidade do ambiente foi vista pelos indicadores que a teoria Ecodinâmica propõe, que são a morfogênese e a pedogênese. Por morfogênese se compreende a ação formadora do relevo em si e por pedogênese, se compreende a ação formadora dos solos (Cf. Morfogenia e Pedogenético, Guerra, 1980). Essa ação formadora se desenvolve na paisagem através de fatores os quais buscamos assimilar neste trabalho, que são as evidências dos eventos na paisagem.
1.3 Procedimentos metodológicos
Utilizamos uma imagem orbital e aerofotolevantamentos, como fontes secundárias de dados, os documentos relativos a essa etapa envolvem uma imagem SPOT Base 732, Ponto 363, Quadrante shift 3 datando de 20.07.1991 tanto em formato digital (TIFF) quanto em papel para análise visual, e aerofotos de 1969, efetuadas pela Força Aérea Brasileira, além de sobrevôos na área (um efetuado em 1998 e outro, em abril de 2002) pelo Setor de Informações Geográficas Aplicadas do LGA/DEGEOC.
O uso da imagem nos permitiu gerar, em conjunto com as informações de altimetria, modelos visuais para análise. Por ser no relevo a ocorrência do nosso principal objeto de estudo, as informações de altimetria se tornaram essenciais.
As informações altimétricas usadas foram geradas a partir do Modelo Numérico do Terreno – MNT – da área. O procedimento para gerar esse produto foi pautado no manual do Sistema de Processamento de Informações Georreferenciado – SPRING, em que iniciamos o processo com a importação dos dados altimétricos, até então eles estavam apenas em um software de CAD. Ainda no ambiente CAD foi feita uma leitura para averiguação de possíveis enganos relativos à digitalização. A entrada dos dados se deu em uma mesa digitalizadora com área útil de 18x12”, acurácia por volta de 0.01 polegadas e resolução em torno de 2540 linhas por polegada (especificações do manual técnico). Corrigimos as linhas que quando muito próximas foram cruzadas no momento da sua digitalização ou cotas que foram digitalizadas e não tiveram seu valor altimétrico associado. No ambiente do SPRING as isolinhas com suas respectivas cotas mais os pontos cotados, foram importadas para Planos de Informação diferentes, cuja categoria conceitual relativa é o Modelo Numérico de Terreno. Com esses dados foi possível gerar uma grade retangular pelo cálculo da média ponderada por cota e por quadrante, o manual do SPRING sugere essa operação para amostras do tipo isolinha. Foi gerada também uma grade pela média ponderada por quadrante, com os dados do Plano de Informação das amostras de pontos cotados, seguindo também a sugestão do manual.
Apesar de geradas essas grades retangulares, uma Grade Triangular obtida das amostras do tipo isolinhas foi mais aproveitada para nossa pesquisa. Esse TIN, do tipo Delaunay, foi gerado sem linhas de quebra e com tolerâncias de 10 metros entre as isolinhas, para alcançarmos uma menor aresta do triângulo, deixamos o valor em 1.6 metros, que é o valor default para a operação. Usamos o modelo de triangulação de Delaunay pelo fato do manual do SPRING alertar que essa técnica é mais adequada para análises em que a preservação dos valores de altimetria é necessária. Após bom tempo de processamento, obtivemos o TIN e dele originamos uma nova grade retangular.
Essa nova grade retangular foi obtida através do interpolador quíntico sem linha de quebra. Como necessitávamos gerar uma representação condizente com o relevo do quaternário, seguimos a orientação do manual para o uso desse interpolador, pelo fato do seu resultado ser mais suave, como é o relevo em que os fenômenos que buscamos ocorrem. Dessa grade elaboramos uma imagem em Nível de Cinza e uma imagem Sombreada. A interação das duas imagens que destacam a área da REBIO podem ser vistas na Figura 2.
Figura 2: Relevo da REBIO Guaribas representado a partir de imagens Nível de Cinza e Sombreada frutos de MNT. O canal Vermelho foi jogado na imagem NC e o Verde na imagem Sombreada que foi filtrada por passa-baixa-média. Em preto estão os limites e a rede de drenagem, em azul.
Figura 3: Visualização 3D do MNT da REBIO Guaribas. Exagero vertical 0.2, elevação do modelo em relação ao plano em. 30° e azimute em 175°.
O uso dos dados climatológicos neste trabalho apresentaram maior ênfase na caracterização do ambiente e não foram aplicados em nenhum momento em Álgebras de Mapas. Os dados, de pluviometria e evaporação foram correlacionados, grosso modo, na tentativa de se fazer um balanço para demonstração da suscetibilidade ao déficit hídrico em solos desnudos (entende-se por déficit hídrico a evaporação maior que a precipitação (dh=e>p), tomando como referência Arthur Strahler que diz: “déficit hídrico [balanço hídrico] Diferencia entre la evapotranspiración potencial [requerimientos de agua] y la evapotranspiración real [agua utilizada] que representaría la cantidad de agua que debería mantener al máximo exponente el crecimiento vegetal” - 1994, p. 513).
A classificação digital foi executada através do algoritmo de MAXVER, que “vem do método estatístico de Máxima Verossimilhança, e é o método de classificação ‘pixel a pixel’ mais comum. Considera a ponderação das distâncias entre médias dos níveis digitais das classes, utilizando parâmetros estatísticos” (Manual on-line do SPRING Versão 3.5.1, © 2001). Foi feito o treinamento para essa classificação, ao partir da definição de grupos de pixels nas classes de vegetação adotadas por Barros (2000). Não houve aprofundamento nas técnicas de Classificação Automática para depuração dos dados extraídos das operações com as imagens, pois o nosso objetivo não é o de estudar a vegetação em si, mas principalmente localizar no espaço estudado as classes de vegetação ou zonas sem vegetação. A classificação digital nos deu suporte na identificação mais depurada de pixels associados à vegetação, ou falta dela em áreas de difícil acesso como é o caso do núcleo da REBIO.
A partir dos resultados obtidos (tanto na classificação digital como nos valores cedidos por Barros) elaboramos um mapa, no qual tentamos retratar a situação de cobertura vegetal.
“As encostas naturais que possuem uma camada contínua de solo podem apresentar-se em todos os ângulos inferiores a 40°. ... sendo observado certos ângulos característicos”, e que em, “Investigações realizadas em vários meios demonstram que os ângulos de encostas mais comuns são os de 45°, 40°, 37°, 31° a 32°, 26° a 27°, 19° a 20°, 13°, 10°, 7°, 5° e 2°, bem como planuras de 1 ½ a 2°, são considerados penhascos as encostas que apresentam ângulos superiores a 50°” (Bunting, p.90, 1971).
Com a grade de declividade estabelecida, aplicamos uma Álgebra de Mapas para correlacionar o relevo (declividade) e vegetação. A seqüência de instruções em LEGAL (Linguagem Espacial para Geoprocessamento Algébrico) utilizada para efetuar essa operação pode ser vista na Figura 4.
Figura 4: rotina em LEGAL que efetua operação entre os mapas de vegetação e declividade para se obter áreas de instabilidade.
1. Meio instável, obtido a partir de áreas com Vegetação Herbácea ou Sem Vegetação e com declividade do relevo igual ou superior a 12°;
2. Meio-estável, obtido a partir de áreas com Vegetação Arbórea ou Vegetação Arbustiva e com declividade do relevo menor ou igual a 2.9°;
3. Meio-intergrade, obtido a partir de áreas com Vegetação Arbustiva, ou Vegetação Herbácea, ou Vegetação Arbórea e com declividade do relevo no intervalo de 3° a 11.9°.
2.1 Área de estudo – características geográficas
A insolação, conforme o Atlas, situa-se entre 2800 e 2900 horas/ano (op. cit.). A quantidade de horas que esse ambiente recebe a luz solar, em termos de radiação, denota uma ampla questão energética. Essa energia, proveniente da radiação eletromagnética emanada pelo sol, transforma-se em energia térmica ao manter contato com a matéria, e pode ser também utilizada na produção de potência, provendo além da fotossíntese e intemperismo para o ambiente natural, o uso para aquecimento de água, ou transformação dela em energia elétrica por células fotovoltaicas para diversos fins, no provimento de uma melhor qualidade de vida do ser humano. Caracterizamos a área com dados de radiação coletados na estação climatológica do Laboratório de Energia Solar, LES Campus-I, por não termos outros específicos do local pesquisado. De acordo com a Figura 8, adaptada de SELLERS in AYOADE (1986, p. 35), a radiação terrestre não difere muito em latitudes tão próximas ao equador no âmbito terrestre e, para fins de caracterização da área, essa diferença não interfere muito. João Pessoa está localizada por volta da latitude de 7°07’S e a REBIO por volta dos 6°42’S. A questão que surge neste processo análogo é a da cidade de Campina Grande (7º13' S), que numa latitude aproximada a de João Pessoa mostra uma menor irradiação (ver Figura 9). Esse fato se dá pelas condições climáticas dependerem de fatores como repartição terra/mar, pela posição continental e pelo relevo da área, que influi também na nebulosidade. No caso, João Pessoa se encontra no litoral, e a área estudada está a uns 40Km aproximadamente do mar; já Campina Grande, apesar da proximidade latitudinal, encontra-se a 130Km do mar e no planalto da Borborema, a aproximadamente 500 metros acima do Nível Médio do Mar. Essa formação interrompe a passagem dos ventos tornando a área relativa a essa formação sempre encoberta por nuvens.
Figura 8: Distribuição da radiação terrestre (faixa do infravermelho) em Quilolangleys/ano por latitude. Adaptação a partir de SELLERS, Physical Climatology(1965) in AYOADE (1986).
Figura 9: Comparação da irradiação global entre Campina Grande e João Pessoa a partir da média anual das médias mensais. Fonte: Departamento de Ciências Atmosféricas, UFPB.
Fonte: http://www.dca.ufpb.br/clima/rg.html.
Quanto aos ventos que circulam na área, estes têm direção predominante de sudeste, e ao longo do ano sua ocorrência também é de leste e de sul. A velocidade média está em torno dos 2,6m/s. Os alísios de sudeste são os principais deslocamentos de massa que atingem a área estudada. Quanto ao regime das chuvas, o Atlas Geográfico da Paraíba evidencia que a área tem entre 2 e 3 meses de seca e com precipitação média anual entre 1600mm e 1800mm, com variabilidade das precipitações por volta dos 30mm/ano. Já em relação à umidade relativa, dados os quais não temos ali coletados, deduzimos ser essa área relativamente úmida, pela proximidade do mar e pelo baixo número de meses com estiagem, além de a área abrigar uma grande extensão florestal, que favorece uma umidade no seu interior e entorno próximo. Em João Pessoa a umidade média obtida das coletas no LES, no ano de 2000, foi de 78.26%, segundo o Atlas esse valor para João Pessoa gira em torno de 80-85%. Quanto à nebulosidade, ainda de acordo com o Atlas, está por volta dos 6/10 a 5/10 do céu.
A rede de drenagem contida no território da REBIO GUARIBAS, escoa pela vertente direita desaguando no rio Camaratuba. Ela é constituída efetivamente de três sub-bacias e uma micro-bacia, todas significativas: Brejinho Visgueiro; Barro Branco e Caiana, ficando a micro-bacia para o riacho Água Vermelha; dentre estas, a sub-bacia de maior destaque é a do rio Caiana, pois além da área ser maior este rio contém um tributário de elevado caudal para os níveis do lugar, que é o rio Pipina.
A definição de sub-bacia é decorrente de uma distribuição pautada na classificação hidrográfica, proposta por Strahler citado em Christofoletti, que “elimina o conceito de que o rio principal deve ter o mesmo número de ordem em toda a sua extensão e a necesidade de se fazer a numeração a cada confluência” (1980, p. 107), ou seja, cada canal em potencial é uma micro-bacia componente do sistema hidrográfico. Podemos compreender melhor esse processo de classificação da hierarquia fluvial, de acordo com o trecho abaixo, extraído de Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 338), podendo ser visto na figura 10, onde afirmam que:
“A classificação possibilita o entendimento da dinâmica global do sistema hidrográfico e a identificação das unidades que o compõem. Cada subsistema pode ser decomposto em unidades menores até que se possa chegar a unidade espacial mínima, designada de MICRO-BACIA HIDROGRÁFICA” (grifo nosso).
Destacam ainda os autores que “os trabalhos em micro-bacias hidrográficas pretendem integrar os interesses de todos os segmentos da sociedade em termos de abastecimento” (ver Figura 11) (Id, p. 334).
Figura 10: Hierarquia fluvial em uma bacia hidrográfica hipotética.
Adaptado de Bertoni e Lombardi Neto (1990).
“A sub-bacia do rio Caiana (...), tributário da margem direita do baixo rio Camaratuba, dispõe-se sobre terrenos do grupo Barreiras, cuja litologia de material sedimentar acaba por permitir o entulhamento dos vales pela erosão fluvial, sendo esta decorrente da interrelação de diversos fatores conjunturais. Como o sistema natural é um sistema aberto, a entrada da matéria água se faz pela precipitação e, a mesma nesta região apresentou-se irregular, havendo uma forte concentração no mês de maio; e os demais meses houve uma certa regularidade (ver Quadro 1 e Figura 12). No entanto, o total pluviométrico nos meses observados (janeiro a outubro de 1999) foi de 650.5 mm, mas se não houvesse a forte precipitação em maio, esse índice cairia de forma significativa, denotando assim, para um lapso temporal, uma situação bem próxima a semi-árido. Mas essa irregularidade, com concentração de chuva, acaba por se tornar “um dos fatores climáticos de maior importância na erosão dos solos. O volume e a velocidade da enxurrada dependem da intensidade, duração e freqüência da chuva. A intensidade é o fator pluviométrico mais importante na erosão” (Bertoni e Lombardi Neto, 1990: 45). O destaque para o elemento chuva acaba por apresentar essas duas variáveis importantes para o subsistema rio Caiana. Primeiro é a reposição do estoque hídrico para o abastecimento tanto das formas naturais preservadas no território da REBIO, como também o abastecimento doméstico e de irrigação. Já em um segundo momento, as precipitações irregulares e concentradas têm sua ação modeladora do relevo, deslocando erosivamente o solo desnudo, tanto na forma laminar quanto na forma vertical provocando as voçorocas e consequentemente os vales. A matéria água passou a ser o destaque devido a essas duas variáveis: EROSÃO e RECURSO” ROSA (2000, p. 44-5) (No trabalho original o quadro está indicado como ‘1’ e a figura como ‘9’).
Figura 11: Gráfico das precipitações – posto de Mamanguape, ano 1999.
Adaptado de ROSA (2000, p. 46).
O Relevo sobre o Grupo Barreiras passa a ter uma característica determinada por um conjunto complexo de elementos e fatores, tanto litólicos quanto climáticos, hídricos e bióticos. O Grupo Barreiras é o suporte de um planalto cujo material é de origem sedimentar, ainda não consolidado, e os sedimentos são mal selecionados e com nítida predominância das frações areia e argila. Esse material é que sustenta o relevo e se encontra sobre e entre os tabuleiros e os vales encaixados, cuja drenagem vai sulcando os vales a partir dos interflúvios bem aplainados. Por ser o pacote que constitui o Barreiras, de material em consolidação e com predominância de frações de areia e argila, podemos dizer que este pacote é bastante vulnerável às ações intempéricas, principalmente as de alta magnitude, como chuvas intensas e, se por um outro lado, o corpo vegetal não está presente, a vulnerabilidade aumenta e a morfogênese torna-se mais ativa, principalmente nas vertentes.
As áreas planálticas, que fornecem material para planícies vão sendo moldadas lentamente, ou aceleradamente conforme a vulnerabilidade que o conjunto litólógico apresenta. Em uma bacia, dependendo da sua rugosidade e falhas na cobertura vegetal nas suas vertentes, a ação mecânica da água pode ser potencializada. Por rugosidade de uma bacia compreendemos como sendo a combinação das “qualidades de declividade e comprimento das vertentes com a densidade de drenagem” Christofoletti (1980, p. 121).
Em uma bacia com rugosidade acentuada, isto é, uma bacia que contém canais com gradiente de declividade com valores elevados e comprimento no canal de escoamento curto, além de uma grande densidade de canais, o fluxo da água pluvial, quando não encontra o bloqueio na vegetação ou na serrapilheira (que para existir depende da vegetação), acaba tendo sua força erosiva concentrada nos caminhos a jusante. Como estes são curtos e com grande diferença altimétrica, conduzem o fluxo hídrico para o canal fluvial principal, que recebe grande parte do corpo d’água que não se infiltrou no transcorrer do caminho.e quanto maior a densidade da de canais na bacia, maior o fluxo levado ao canal principal e maior a possibilidade erosiva, principalmente se a precipitação for de alta magnitude, isto é, um alto volume precipitado em um pequeno intervalo de tempo.
Como não adotamos a bacia como unidade para operações neste trabalho e sim os limites da REBIO, preferimos não extrair numericamente o índice de rugosidade, pois não teríamos um parâmetro natural como delimitador de área.
Considerando que a população vegetal está em processo de recuperação, devido aos antecedentes extrativistas que ali ocorreram, a mata está se restabelecendo naturalmente, conforme informações orais dos funcionários da REBIO. Há ainda resquícios desse tempo vistos em marcas de ocupação. Marcas deixadas por vias de tráfego relativamente intenso dos caminhões madeireiros. Um outro elemento de muito valor para observação da regeneração da Mata está relacionado ao grande número de população vegetal, que tem a característica de madeira mole, como referem os guardas da REBIO. Essa madeira é vulgarmente conhecida como Embaúba.
A cobertura vegetal mais densa encontra-se nos vales fluviais, e chega até as bordas das bacias. Na SEMA II essa é uma ocorrência bem nítida pois, se observarmos na Figura 13, da borda da bacia rumo às encostas, há um indicativo de que estas são bem povoadas pela vegetação florestal e que são áreas compreendidas nos interflúvios. A disposição da vegetação nesta geometria de relevo, isto é, na borda superior do vale, denota o papel fundamental que esta população tem para com a pedogênese, pois contribui para a formação da serrapilheira, tanto no interflúvio como nas encostas e, fundamentalmente, no fundo dos vales. O acúmulo de material residual formador da serrapilheira, quando entra em estado de decomposição provê o enriquecimento de nutrientes bioquímicos para o solo. Essa camada enriquecida, no caso, a liteira, permite que a umidade do solo seja mantida, além de proteger os nutrientes minerais que não ficam expostos e sujeitos à lixiviação.
Figura 13: Interrupção abrupta da população vegetal sem nenhuma agente atenuador.
(Foto: Conrad R. Rosa, abril de 2002).
A delimitação territorial da REBIO apresenta-se como uma maneira legal de proteger o que ali está inserido. Essa proteção, por sua vez, torna o fluxo de matéria e energia entre o núcleo da Unidade de Conservação – UC, com o seu exterior um tanto deficiente, pois o cerceamento, como já foi abordado anteriormente, tenta submeter os processos naturais entre interior e exterior a uma situação artificial, em que o território passa a ser uma unidade apartada do contexto exterior. Por um lado, essa proteção realmente classifica o que está ali inserido como algo diferente do entorno, porém essa classificação, que é algo abstrato, não prevê a unidade territorial como um elo do fluxo contínuo, que é a natureza. O território fica então ilhado, sem uma interação equilibrada com o que está além das cercas.
2.2 Morfogênese e pedogênese – indicadores de vulnerabilidade
Figura 14: Processo de Erosão no entorno da REBIO (em destaque). Ao fundo a REBIO com vegetação mais densa. (Foto Conrad R. Rosa – 1999).
Analisando a área A
Figura 15: Situação das bacias hidrográficas do litoral paraibano com destaque para o divisor de águas entre as bacias dos rios Mamanguape e Camaratuba.
Figura 16: Destaque na carta topográfica referente às cabeceiras dos elementos hidrográficos que estão se encaminhando para um processo de captura.
Figura 17: Perfil longitudinal entre os cursos d´água do rio do Barro Branco e do riacho da Pedra Preta demonstrando a flexão imposta pela erosão regressiva.
Figura 18: Perfil longitudinal 1 se refere à relação interfluvial de uma das cabeceiras do riacho da Pedra Preta com o rio do Barro Branco. O perfil longitudinal 2 se refere a outra nascente do riacho da Pedra Preta e o intervalo que o separa da nascente do rio do Barro Branco.
Outro fator que corrobora para catalisar essa captura é que a estrada contém uma pavimentação asfáltica. Este agente é que estabelece o processo de impermeabilização da superfície do solo, acarretando a concentração de águas pluviais cujo processo de drenagem concentrado passa para os cursos naturais, fato que é verificado logo após a faixa denominada de acostamento da estrada devido à presença de ravinamentos na área (ver Figura 21). Esses fatores ampliam a intensidade do escoamento superficial e, conseqüentemente as enxurradas serão torrenciais , permitindo a efetivação de erosão regressiva nas áreas de maior flexão do perfil longitudinal do curso do rio (ver Figuras, 18 e 19). Segundo Christofoletti, “a captura fluvial corresponde ao desvio das águas de uma bacia fluvial para outra, promovendo a expansão de uma drenagem em detrimento da vizinha”. O tipo de captura que pode ocorrer com o recuo das cabeceiras entendido, conforme o autor como
“processo responsável quando dois rios adjacentes estão localizados em altitudes diferentes ... através do recuo das cabeceiras, o rio expande-se, atravessa a divisa e captura o curso de água localizado em nível mais alto. Outro fator assinalado para explicar a ocorrência dessa espécie de captura reside na diferença de declividade entre os dois cursos concorrentes, sendo que o de maior declividade tornar-se o beneficiado” (1981, p. 135-6).
Figura 20: Presença da ravinamentos entre o acostamento da estrada PB-071 e a borda da REBIO.
(Foto Maria J. V. de Barros – 2002).
Analisando a área B
Figura 22: Área de vegetação herbácea e arbustiva junto a BR-101.
(Foto: Conrad R. Rosa, abril de 2002).
Como já citamos anteriormente, a ação do vento é importante na propagação do fogo, pois estando a SEMA I a Oeste da rodovia e a direção predominante dos ventos é sudeste, logo a propagação tenderá para a direção NO. Estando o vento com velocidade média em torno dos 2,6m/s e como o ambiente está próximo a um topo que decresce rumo ao rio Camaratuba, o fogo se espalha mesmo vencendo a encosta no sentido descendente (ver Figura 25 e 26). Esse fenômeno de propagação do fogo com tamanha agilidade, decorre também do fato de que a população referente a vegetação nessa área não é de densidade elevada, é de baixa estatura e pouca densidade foliar, é composta principalmente de vegetação arbustiva (cerrado) e de gramíneas (campos), sendo esta uma das razões que nos períodos secos a vegetação torna-se mais suscetível à queimadas.
Figura 23: Foto de queimada na SEMA I, próximo a área B. A BR-101 está na direção oposta direção da foto. (Foto: Conrad R. Rosa – 1997)
Figura 24: Disposição dos perfis topográficos – ÁREA B (SEMA I). As setas representam a direção predominante do vento. Em Amarelo está a BR-101.
A difícil recuperação da vegetação devido às queimadas promove, a exposição do solo às intempéries e, por conseguinte, uma perda deste material pelo trabalho erosivo da ação, principalmente das enxurradas de magnitude torrencial (ver Figura 27). O desgaste da superfície litológica que essa área vem sofrendo, acaba por interferir no equilíbrio desse ambiente, pois o deslocamento de material para os canais diminui o volume do escoamento a jusante, lugar esse que já se encontra externo a REBIO, suprindo tributariamente com pequeno fluxo o rio Camaratuba e agricultores do entorno.
Figura 26: Área de instabilidade na SEMA I com solo exposto, próximo a área B. A BR-101 está na direção da foto, acima do barranco. Foto original colorida. Esta amostra foi realçada por processamento digital. (Foto: Conrad R. Rosa – 1997).
Figura 27: Área fortemente instável dado ao antropismo agressivo.
(Foto: Conrad R. Rosa, em abril de 2002).
“O índice de evaporação na área semi-aberta é relativamente superior a do interior da mata, devido principalmente a incidência direta dos raios solares principalmente ao meio dia, quando a insolação atinge o seu máximo de perpendicularidade o que aumenta a capacidade do poder evaporante. Os ventos também têm grande participação no processo da evaporação uma vez que na área semi aberta a barreira de ventos é sensivelmente diminuída, se comparado com a mata, desse modo, os ventos na área aberta têm maior poder de circulação. Verificamos após várias leituras realizadas, que o índice de evaporação nos meses que vão de outubro a janeiro (período o qual demos início a pesquisa) foi bastante intensa, tendo seu pico no mês de novembro, atribuímos esse fato ao baixo volume pluviométrico, durante o referido período. Observamos também que na chegada da estação do outono, e mais especificamente entre os períodos de 20 a 24 de março/2000, em que se verifica a perda elevada de folhas pelas árvores, houve um aumento da evaporação tanto no interior como fora da mata, favorecendo a penetração da energia solar e dos ventos e como conseqüência um aumento no índice de evaporação” (2000).
Devido a essa situação as áreas de cabeceiras dos rios e riachos, nesta parte da REBIO, estão sujeitas a perderem seu suprimento de água e secarem, isso em se tratando da falta de abastecimento do lençol freático por reposição pluvial, pois nesse sentido a evaporação pode ser superior à reposição.
Nas evidências levantadas, além do grau de vulnerabilidade detectado a análise nos permite conferir que, às luz da Teoria Ecodinâmica, a área sofre com problemas ambientais gerados no exterior da área de proteção, comprometendo sua estabilidade em termos de interior, conduzindo a área protegida a uma desestabilização, no que primeiramente deveria ser uma área estável.
Considerações finais
Para evidenciar tais áreas vulneráveis, foram necessárias medidas de alta confiabilidade e em alguns momentos precisas. No caso, para tentar minimizar os efeitos da imprecisão usamos, além de fotografias e cartas o instrumental que vem sendo empregado no cotidiano técnico que é o Sistema de Informação Geográfica, tendo como ferramenta mais precisa uma que trata especificamente do relevo, que é a Modelagem Numérica de Terreno (MNT).
Com essas ferramentas que tratam os dados em meio digital, um grande volume de dados sobre o relevo pôde ser processado neste trabalho, que procurou corroborar ainda mais os valores contidos nas hipóteses. O processamento se fez rapidamente facilitando assim os testes e visualizações, contribuindo para nossa compreensão do relevo. Na própria confecção da base de dados os problemas expostos ficaram mais evidentes, o que facilitou a decomposição do problema na área detectada. Convém citar mais uma vez que as fontes de dados utilizados foram indiretas, ou seja, são dados oriundos dos documentos cartográficos disponíveis que sofreram por dentro do SIG processamentos matemáticos e estatísticos.
Laçamos mão também do processamento digital de imagens – PDI. Usamos imagens orbitais em formato digital, além de fotos de sobrevôo e fotos horizontais. Das imagens tratadas no computador conseguimos extrair dados que passaram a ser informações. Verificamos em campo por diversas vezes os dados tratados no computador e ainda coletamos outros. Observamos também que a metodologia trabalhada, que envolve dados indiretos, é confiável, e torna-se uma poderosa ferramenta de análise, pois permite visualizar o ambiente sob vários ângulos.
A busca de resolução para nosso problema – as possíveis evidências de vulnerabilidade no relevo da REBIO Guaribas –, foi conduzida pelas hipóteses. A primeira hipótese levantada refere-se ao fato de que o desequilíbrio do fluxo de matéria-energia entre os conjuntos naturais, cujos resultados incidem numa morfogênese maior que pedogênege, influi na vulnerabilidade do relevo da REBIO. Outra hipótese é que a pressão no meio ambiente, através de intervenções artificiais que tencionam elementos dos conjuntos naturais causam desequilíbrio no sistema, levando à ocorrência de uma morfogênese maior que pedogênege.
Nas duas áreas analisadas, pudemos constatar que o fluxo de matéria e energia está em desequilíbrio pois há instabilidade, seja ela moderada ou intergrade. Tanto na área A como na área B o desequilíbrio ambiental é causado a partir de diversos agentes. Um desses agentes detectados está relacionado à presença de rodovias, que além de impermeabilizarem o solo permitem um tráfego intenso de veículos. Outro agente de interferência acentuada é o fogo, utilizado como instrumento agrícola ou mesmo de forma acidental tanto na área de frutos silvestres na coleta ilegal de caju, fato que ocorre principalmente na área B. A queimada afeta de forma agressiva o equilíbrio do sistema, fazendo com que o elo que amortece a ação das forças intempéricas no relevo, que é a vegetação, seja enfraquecido. Esse enfraquecimento possibilita o rompimento de uma cadeia de causas e efeitos espontâneos no sistema, levando o ambiente a uma desestabilização, incidindo que o processo da morfogênese seja superior ao da pedogênese.
Com a estrutura da população vegetal enfraquecida pela presença do elemento fogo em áreas adjacentes ou internamente de forma acidental, há ainda a questão referente à pavimentação asfáltica no entorno, que acaba atuando como um elemento limitante do território da REBIO. As estradas acabam sendo um agente que confina o fluxo de matéria e energia entre o interior e exterior da UC, além de interferir na drenagem natural como foi destacado na área A.
Em relação à primeira hipótese, com intervenção antrópica, detectamos uma tendência das áreas A e B se manterem em morfogênse. Esse fato se deve a difícil recuperação das áreas que já estão comprometidas com o atributo vulnerabilidade, o que inevitavelmente acaba por levar ao desequilíbrio nas constantes trocas de matéria e energia entre a paisagem e o ambiente.
A intervenção humana atua diretamente sobre a própria dinâmica natural criando relações entre fenômenos e áreas com elevado teor de instabilidade. Percebemos que a primeira hipótese encontra sustentação quando há uma tentativa da própria área natural se equilibrar de forma espontânea com uma outra área, como ficou nítido na Figura 13, pois ali, naquele lugar, a vegetação no vale se recuperou após a intensa extração de madeira praticada no início da década de 1970.
A vulnerabilidade no relevo na REBIO é ocasionado também pela própria dinâmica natural do sistema, como é o caso da captura entre os canais que têm processos erosivos intensos. Esse fato foi observado com bastante nitidez na área A, cuja tendência natural do riacho da Pedra Preta demonstrou a possibilidade de captura do canal do rio do Barro Branco, que se apresenta com menor teor erosivo devido à ação de caráter morfogenético. Essa ação leva tanto um canal como outro a se unirem a partir da erosão regressiva, aumentando de forma significativa a concavidade do perfil longitudinal da linha que forma o curso d’água.
Consideramos que em certas áreas, apesar de sofrerem naturalmente uma morfogênese maior que a pedogênese, o agente externo homem acelera ainda mais tais processos, comprometendo provavelmente as outras áreas próximas. A partir das hipóteses, corroboradas, não temos dúvidas em afirmar que as áreas no interior da REBIO, consideradas enquanto aspecto de Intergrade e Instável devem ser vistas pela equipe gestora da UC como áreas de preservação, a partir de observação sistemática.
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