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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Destruição de recifes provocou avanço do mar em Cabedelo


Fonte da foto não citada


O mar avança sobre uma determinada área e com a força das ondas começa a destruir o que encontra pela frente. Muitas pessoas preferem "culpar" o aquecimento global por estas agressões da natureza, mas as verdadeiras razões podem ir além disso. Um exemplo é o que está acontecendo na praia do Poço, em Cabedelo, onde acredita-se que a degradação de recifes é a principal motivação para a destruição causada pelo mar.

No local, existe uma faixa de terra de aproximadamente 300 metros que está visivelmente sofrendo mais com a agressão do mar. O que até então parecia não ter um motivo, começou a ser desvendado a partir de histórias contadas por moradores e hipóteses levantadas na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

"A área foi muito agredida pelo mar e ninguém sabia o que era. Um dia, quando nós fomos ao local, alguns moradores nos contaram que próximo ao lugar havia acontecido uma dinamitação de recifes para a passagem de embarcações", revelou o professor do departamento de Geociências da UFPB, Paulo Rosa.

Segundo o comerciante Sérgio Santos, que trabalha na praia do Poço há mais de 15 anos, a dinamitação dos recifes na área foi feita há cerca de 30 anos para a passagem de embarcações de pesca e depois disto o mar foi avançando aos poucos. "Meu pai era pescador e morou aqui por 62 anos. Ele morava aqui na época da dinamitação dos recifes e nos contava. Isso aconteceu há mais de 30 anos e agora nós estamos sentindo os efeitos. Em 15 anos, o mar já avançou mais de 20 metros. Agora, nós, comerciantes e moradores, estamos tendo prejuízos", relatou.

O professor Paulo Rosa explicou que ainda não foi feito nenhum estudo que comprove a relação entre a dinamitação dos recifes e o avanço do mar na área, mas que é grande a probabilidade dos dois fatores estarem interligados. "Sem os recifes para quebrar da energia das águas, ela chega à superfície com muita força. A área é uma planície muito sensível, então, qualquer coisa que se mecha nos recifes causa muitos problemas", alertou.

Para o professor, a retirada dos recifes ou a agressão a estas barreiras naturais de proteção pode contribuir para o desaparecimento de grandes áreas do Litoral. "Ainda não sabemos o quanto seria destruído. Mas se acabarem os recifes, o período de vida nesta área será muito curto. A força hidráulica é muito agressora. Quem quiser manter a área deverá ser responsável pela manutenção dos recifes", destacou.

Pesca predatória também coloca a vida de recifes e corais em risco

Além da dinamitação de uma área de recifes na praia do Poço, em Cabedelo a pesca predatória também coloca em risco os corais que servem de proteção natural contra o avanço do mar. Segundo o presidente da Colônia de Pescadores de Cabedelo, Paulo Ferreira, a pesca clandestina de polvos com o uso de água sanitária estaria contribuindo para a morte dos corais e de várias espécies marinhas.

Paulo explicou que a água sanitária é usada por alguns pescadores para fazer com que o polvo saia da loca. “Esta atividade vem sendo intensificada nos últimos 15 anos em toda a costa do Litoral nordestino. A prática é feita a partir do mergulho. Quando se usa a água sanitária, o polvo sai da loca, mas por outro lado, acontece a destruição dos coroais, a morte de peixes e de outros animais marinhos”, comentou o pescador.

De acordo com o professor do departamento de Geociências da UFPB, Paulo Rosa, esta prática mata a vida dos corais, “enfraquecendo os recifes e os deixando expostos à ação mecânica das ondas”. O que futuramente poderá contribuir para que uma nova área seja devastada pelo mar.

O presidente da colônia de pescadores destacou ainda que o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) tem realizado fiscalizações para inibir este tipo de pesca e que a própria colônia de pescadores realiza campanhas educativas, mas o problema ainda é muito abrangente. “O Ibama fiscaliza e nós pedimos para os pescadores não usarem esta técnica. Já fizemos trabalhos também em parceria com a universidade. É uma coisa que é prejudicial à atividade da pesca tanto hoje quanto futuramente, mas acreditamos que 90% do polvo pescado aqui, a partir de mergulhos, ainda é com água sanitária”, destacou Paulo Ferreira.

Procurado para falar sobre o assunto, o secretário de Meio Ambiente de Cabedelo, Walber Farias, disse desconhecer estas práticas de agressão a arrecifes e preferiu não se pronunciar.
A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA também tentou entrar em contato com o secretário de Estado de Meio Ambiente, Francisco Jácome, mas foi informada que ele está em viagem no interior do Estado, acompanhando o governador José Maranhão na inauguração da Adutora de Capivara. Segundo a assessoria de imprensa da secretaria, o secretário adjunto de Meio Ambiente também está com a comitiva do governador no interior do Estado e no local os celulares não funcionam. Nenhum outro funcionário estaria autorizado a falar sobre o assunto.

Tudo começa no embarreiramento dos rios

Se em Cabedelo, o problema do avanço do mar pode estar ligado à destruição de corais, em João Pessoa, o professor do departamento de Geociências da UFPB, Paulo Rosa, tem estudos que indicam que o problema pode estar ligado ao embarreiramento de rios, o que estaria diminuindo a quantidade de sedimentos que chegam à praia.
Segundo o professor, a construção de barragens está retendo os sedimentos que deveriam ser trazidos para a praia. “Nós acreditamos que ao mesmo tempo que as barragens retêm água, elas aprisionam sedimentos que deveriam ser trazidos para a praia. A ação do mar continua e a faixa de areia está diminuindo”, destacou o professor.

A pesquisadora Maria Barros, que trabalha em parceria com o professor Paulo Rosa, destacou que o problema da destruição causada pelo mar pode ser agravado ainda mais com a construção de novas barragens. “Atualmente está sendo construída a adutora Abiaí-Papocas. Esta barragem vai melhorar o abastecimento d’água, mas também vai conter sedimentos que seriam trazidos para a praia. Isso contribui para que futuramente o problema na orla seja ainda maior”, afirmou.

A construção da adutora Abiaí-Papocas foi tema de uma audiência pública na Assembleia Legislativa em maio de 2009. Na ocasião, representantes da Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba (Aesa) afirmaram que as obras não deverão causar proble ambientais e que têm licença da Sudema.

Fonte: Agência de Notícias (UFPB) por Natália Xavier em 10.01.2010

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