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O mais importante rio da
capital paraibana e o mais urbano tem 13,3 quilômetros (km). Nascia
originalmente em uma lagoa próxima às Três Lagoas, mas que hoje se encontra
aterrada. No local foi construído o Conjunto Residencial Esplanada, como
iniciativa do Governo do Estado. Após sua nascente, o Jaguaribe segue cortando
vários bairros importantes e “nobres” da cidade. Passa pelo Jardim Veneza, Bairro das Indústrias, Costa e
Silva, Oitizeiro, Cristo Redentor, Cruz
das Armas, Rangel "antigo Varjão", Jaguaribe, Comunidade São Rafael, avenidas
Beira Rio e Epitácio Pessoa, além dos bairros São José, Manaíra e Bessa.
Apesar
da Bacia do Jaguaribe achar-se ocupada por vários bairros, o Plano Diretor da
Cidade, de 20 de março de 2009, garante que o vale do Jaguaribe está incluído
nas Zonas Especiais de Preservação (ZEP). Em seu artigo 39, a legislação determina
que por se tratar de área de preservação deve ser considerado de interesse
social, sendo necessário a manutenção e recuperação de características paisagísticas,
ambientais, históricas e culturais. A lei também impõe normas específicas e
diferenciadas para o uso e ocupação. De acordo com a legislação em área de ZEP
se faz necessário respeitar a distância mínima de 30 metros da margem do rio
para se construir habitações.
Mas a ocupação irregular das margens é vista em
toda extensão da bacia do rio. A urbanização tem provocado sérios impactos
sobre o meio natural, além dos problemas sociais decorrentes da pobreza geral
das populações que ali se instalaram. “Ao longo do rio ocorrem os
maiores transtornos referenciados como inundações, decorrentes das precipitações
concentradas. O problema se agrava porque o Jaguaribe apresenta um baixo grau
de declividade”, explica a geógrafa
Liése Carneiro. Segundo a geógrafa, o curso do rio Jaguaribe favorece o
aparecimento de um dos principais problemas enfrentadas pelas comunidades
ribeirinhas: as inundações. “A topografia
plana que leva o fluxo das águas a possuir baixa energia, tornando lento o
escoamento do rio... havendo chuva de maior intensidade, acaba por provocar
inundações em vários trechos de seu curso”, explica.
Além das habitações às margens do rio, a impermeabilização do
solo através de equipamentos colaboram para ocorrência de inundações, por não
permitir a infiltração da água no solo. Quando o curso do Baixo Jaguaribe se
aproxima da área que contém o mangue, ele está fortemente ocupado por edificações
residenciais à sua volta. A foz do rio, ora confinada, não tem mais como
enfrentar o mar, pois este vai impondo sedimentação.
A ocupação das áreas de
Preservação Permanente, referentes ao rio Jaguaribe e ao Baixo Jaguaribe, hoje
outro rio, denominado de rio Morto, impôs uma pressão enorme sobre o antigo
curso natural da água. Ao Baixo Jaguaribe restam apenas poças d’água parada e
bastante contaminada, o que conota que esse é um rio marcado para morrer.
Juntamente com o rio morrerão também o manguezal cujo eixo possui mais de 1 km
de extensão e com meio quilômetro de largura, ou seja, um ecossistema com
elevado potencial produtivo de suporte à vida. Se assim concretizar, as gerações
futuras possivelmente não terão acesso a essa foz, que, embora poucos saibam,
se tornou histórica pelo fato de ter sido dela que o conde Maurício de Nassau
se despediu do Brasil em 1644, quando de seu retorno à Europa. Com a morte do
Baixo Jaguaribe, uma geografia se transfigura, a história perde um pouco de sua
memória e a ecologia desse ambiente se esvai.
O pescador Paulo Roberto do
Nascimento, de 34 anos, lamenta a morte do Baixo Jaguaribe. Ele conta que
quando o rio desaguava no mar costumava sustentar a mãe com o que pescava no
rio. Paulo gostava de pescar nas águas que cortavam o bairro São José. Lá,
costumava pegar espécies do tipo tilápia, traíra, curimatã (a tainha na fase
adulta) e sauna. “A gente pescava sem dificuldade. Era só jogar a rede e logo o
peixe ficava preso. Eu vendia tudo ali mesmo no bairro, tinha minha clientela
certa”, declara.
Os
tempos áureos remetem aos 1980 quando as águas que passam por trás das casas da
comunidade ainda estavam livres da poluição.
Quando os esgotos passaram a ser jogados sem tratamento no leito do rio, e
casas de madeira começaram a ser erguidas dentro do rio, a paisagem foi se
modificando. “Agora, o peixe que a gente pesca no rio Jaguaribe tá poluído.
Ninguém quer porque tem medo de adoecer”, conta o também pescador Jailson Pereira dos Santos, de 30 anos. Para
sobreviver, os pescadores buscam peixe no mar. “Não dá para sobreviver pescando
no Jaguaribe. Eu preciso ir para o mar para garantir o sustento de minha família”, diz Paulo. Mas, a mudança exigiu uma adaptação. “Eu precisei
aprender como pescar no mar. Hoje não tenho medo, mas é muito diferente. A
gente precisa passar ao menos uma noite no mar, esperar a maré ficar favorável e ainda não dá para ir sozinho”, ensina. Na antiga foz do Jaguaribe na
praia do Bessa, a água não atinge o mar.
O fenômeno, segundo
o professor Rosa, é causado porque as águas do rio não têm mais força para
transpor as barreiras que encontra ao
longo do percurso. “Depois do bairro do São José, o Jaguaribe está morto. Ele só
sobrevive em forma de poças de água, mas sequer consegue desaguar no mar”, lamenta. O vendedor ambulante Josinaldo
Nascimento, 30 anos, tem saudade de quando ainda
conseguia tomar banho no Jaguaribe. Morador do bairro Renascer, ele conta que o
rio tinha tanto peixe que ao colocar os pés nas águas as piabinhas vinham
beliscar os pés.
A aposentada Maria da Glória, de 57 anos, também tem agradáveis
recordações do rio Jaguaribe. Ela mora no bairro São José há quase 30 anos e
diz que antigamente o rio tinha uma água transparente. “Dava para ver os pés
quando a gente entrava na água”, destacou.
Longe de ser receptor de esgoto de várias residências e de apresentar densa vegetação parasitária que
atualmente invade todo seu leito no bairro São José, o Jaguaribe era o rio onde
as crianças brincavam nos dias de calor e aprendiam a nadar. “O rio era muito
limpo. Dava gosto tomar banho e passar o dia brincando nele”, diz com saudade.
A degradação do
Jaguaribe tem se revelado durante os trabalhos de limpeza do rio. Em todo ano
passado, apenas em cinco quilômetros de rio foram recolhidas 240 toneladas de
resíduos que foram encaminhadas para o aterro
sanitário. O lixo recolhido e quantificado não inclui a vegetação que é
retirada do córrego, em virtude dela ser deixada nas margens para ser
transformada em adubo. Segundo o diretor do Departamento de Resíduos Sólidos da
Empresa Municipal de Limpeza Urbana (Emlur), Noé Estrela, no lixo são
recolhidos desde móveis velhos, a eletrodomésticos e animais mortos.
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