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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Erosão ameaça metade do litoral paraibano










Quem esteve na Barreira do Cabo Branco, em João Pessoa, há 20 anos, e pode visitar o local nos últimos meses sente uma grande diferença no aspecto da área. Não é impressão. A falésia sofre com a erosão costeira e perde cada vez mais sedimentos. Este é apenas um dos pontos do Litoral paraibano afetados pelo problema. O diagnóstico de estudo divulgado recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) aponta um quadro alarmante: metade do Litoral paraibano (70 quilômetros) está ameaçada pela erosão. O processo deve continuar acelerado nas próximas décadas, com deslizamentos de falésias e destruição de edificações construídas a beira-mar nos 140 quilômetros de extensão do Litoral da Paraíba.

A causa da erosão seria o déficit de sedimentos na costa. O fator que justifica essa alteração está na atividade clandestina da construção civil, com a construção de habitações em áreas impróprias, feitas sem atentar para os limites da linha praial. As construções de barragens para ampliar o abastecimento de água para a população também têm acelerado a ocorrência desses danos, conforme destaca os estudos. De acordo com a análise do estudo publicado pelo MMA, a linha da costa da Paraíba está situada em um setor da costa brasileira caracterizado por uma tendência de longo prazo para a erosão costeira. Essa convergência tem sido exarcebada por padrões inadequados de ocupação da linha da costa.

Ainda conforme os dados das avaliações, dos trechos mais críticos, cerca de 42% apresentam recuo, 33% experimentam progradação (fenômeno inverso da erosão e se caracteriza pelo avanço da linha de costa mar adentro), 21% estão em equilíbrio e 4% estão estabilizados por obras de engenharia. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas estima que ocorra, nos próximos 100 anos, uma elevação do nível do mar entre 20 e 59 centímetros. Na previsão dos cientistas, um aumento de 50 centímetros consumiria 100 metros de praia da costa nordestina. Os rios são os responsáveis por carregar sedimentos para a praia e abastecer o mar, quando ele avança em busca de areia. Esse movimento se repete e alimenta as praias. Com a ocupação indevida nas margens do rio e por toda a costa, além da instalação de inúmeras barragens, os suprimentos que deveriam ser levados ao mar ficam retidos nesses pontos. "As bacias hidrográficas dos rios que deságuam na região Nordeste são muito pequenas o que, associado com o clima semiárido, reflete em um reduzido aporte de sedimentos para a linha de costa. A principal fonte de sedimentos para a zona costeira são os rios que levam areias que são utilizadas para construir as praias. O reduzido suprimento desse material implica em uma costa 'faminta'", detalhou o geólogo José Maria Landim Dominguez, que participou dos estudos. Para as próximas décadas, o prognóstico é preocupante. Devido, principalmente, à subida do nível do mar, a erosão costeira vai se agravar. Com isso, as edificações situadas próximo à linha de costa serão atingidas, pois qualquer mudança na posição da linha da costa acaba acarretando em ameaças a essas edificações. A solução pode surgir a partir de obras de engenharia que sirvam para conter o fenômeno, como muros de arrimo.

Entretanto, para o professor Landim, a melhor alternativa para se adaptar às mudanças futuras é criar dispositivos no licenciamento ambiental de novos empreendimentos na zona costeira, os quais exijam determinações de faixas de recuo proibindo construções permanentes. O diagnóstico da erosão costeira para o Estado da Paraíba foi feito em termos qualitativos, devido aos recursos muito limitados que foram alocados para a pesquisa. É necessário agora, pelo menos nas áreas onde a erosão é mais severa, a realização de amplos estudos quantitativos para determinação das taxas de recuo históricas da linha de costa e para que sejam idenficadas as projeções do fenômeno para as próximas décadas.

Parte sul é a mais comprometida

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) vão além e garantem que toda a extensão do Litoral paraibano está comprometida com sinais da ação degradadora decorrente desse fenômeno natural. "O processo de erosão é cíclico e um dos fatores que o acentuam está justamente na ocupação urbana indevida, sem levar em consideração a dinâmica costeira. Na verdade, todo o Litoral está vulnerável a erosão", revela o geógrafo e professor do Departamento de Geociências da UFPB, Paulo Rosa. Embora o problema afete toda a extensão da linha costeira do Estado, a parte mais comprometida é a Sul do Litoral.


Praias como Jacumã e Seixas estão em constante ameaça pelo processo de erosão. Para se proteger do avanço do mar, os proprietários de construções criam verdadeiras muralhas, recheada de pedra e concreto. Barracas de alvenaria e palhoças já foram postas a baixo. Na década de 1990, a conhecida palhoça do Seixas foi destruída por uma forte maré. "No Sul, essa tendência é maior", diz o professor.

A instalação de estruturas físicas decorrentes do acelerado crescimento imobiliário na área do Litoral permitiu o acesso a locais pouco habitados. "A partir da década de 1970, a expansão da mancha urbana (caracterizada pelas construções) ficou mais acentuada e os locais onde não existem barreiras de contenção, o mar está avançando cada vez mais. A mancha urbana impede a chegada de areia e esse déficit permite que o mar retire", explica o geógrafo. Paulo Rosa defende que as construções deveriam ser precedidas de um estudo geomofológico rigoroso e de um planejamento que envolva toda a área onde se pretende instalar o equipamento.

Quando não há a observância dos limites de oscilação do perfil praial e das áreas fontes de sedimentos, contribui-se para o agravamento da erosão costeira natural, com destruição de imóveis, praias ecreativas e vias urbanas. João Pessoa e Cabedelo são apontadas como as localidades com áreas danificadas, no entanto, as praias que mais agonizam com a erosão são Pitimbu, Jacumã, Seixas, Penha, Cabo Branco e as situadas em Baía da Traição. Na capital, a erosão é acentuada em toda a praia do Cabo Branco, e alcança ainda Tambaú, Manaíra e Bessa. O geógrafo alertou que a situação pode se agravar em setembro, em que estão previstas pelo menos três marés altas, medindo até 2,8 metros de altura.
Para Paulo Rosa, a única solução para conter a erosão costeira se refere à construção e manutenção das barreiras de contenção ao longo da costa. A exemplo das praias de Manaíra e Tambaú, o sistema deveria ser implantado em caráter emergencial em áreas mais críticas como Seixas e Cabo Branco.

Antes de chegar às praias, o problema tem origem nos rios, encarregados de abastecer o mar com sedimentos. O professor Paulo Rosa destacou que todos os rios urbanos de João Pessoa estão comprometidos por conta da impermeabilização. O mais danificado é o Jaguaribe. Casas feitas na margem são as principais fontes de degradação. A criação de barragens foi outro fator citado pelos especialistas como causa da erosão. (JS)


Geólogo alerta para o problema do desmoronamento de falésias

As falésias merecem especial atenção, pois estão sujeitas a desmoronamentos catastróficos, conforme alerta o geólogo José Maria Landim Dominguez. Um exemplo clássico do Litoral paraibano é a ponta do Cabo Branco, que tem passado por sucessivas intervenções com a finalidade de impedir maiores deslizamentos. No final da década de 1990, a barreira sofreu mais intensamente com a erosão. "As ondas solapam a base das falésias ativas, o que associado com movimentos de massa a partir do topo das mesmas, principalmente em períodos de maior precipitação atmosférica, podem causar estes desmoronamentos", aponta.



A costa do Litoral paraibano é recheada de falésias, muito suscetíveis à erosão, no entanto, as planíceis também são proeminentes ao fenômeno. É a falta de sedimentos que determina em grande parte das características da zona costeira paraibana, com inúmeras falésias, recifes de algas e corais e erosão costeira. Portanto estes condicionamentos resultam em uma tendência de longo prazo para a erosão. Este aspecto por sua vez é agravado por usos inadequados do solo com edificações muito próximas à linha de costa", avisa Landim.

Não existem estudos que identifiquem a quantidade de construções existentes ao longo do litoral, mas em localidades como praia de Campina, em Pitimbu, Seixas, e o município de Baía da Traição são observadas inúmeras edificações bem próximas do mar. Os resultados de estudos como o relatório divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente, que mostram as condições críticas em metade das praias do Litoral paraibano deveriam servir como alerta para a necessidade de intervenções urgentes, inclusive de caráter preventivo. O geógrafo Paulo Rosa, que está engajado em inúmeras pesquisas sobre o tema, lamenta que ações mais efetivas ainda estejam longe de serem postas em prática. "Os investimentos são restritos, até mesmo no que se refere a estudos para identificar as condições da costa", lamenta.

Fonte: Jornal da Paraíba por Jacqueline Santos

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