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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Paraíba está 2 graus mais quente




A Paraíba está até 2 graus mais quente, em diversas áreas do Semiárido e até em municípios da Zona da Mata, onde as temperaturas são mais amenas. Esse aumento na temperatura média histórica é considerado alto e poderá deixar o Estado mais vulnerável a endemias como doença de Chagas, leishmanioses, dengue, leptospirose, esquistossomose e, ainda, doenças como diarreias e cólera. Isso é o que revelam pesquisas realizadas pelas maiores autoridades do País, que estudam os efeitos do aquecimento global.

A Pesquisa "Mudanças Climáticas, Migrações e Saúde: Cenários para o Nordeste Brasileiro, 2000-2050" revela que o Semiárido é a região que mais sofrerá e que a Paraíba é o 3º Estado nordestino que apresenta o maior Índice de Vulnerabilidade da Saúde (IVS), com taxa de 0,70, atrás apenas do Maranhão (1) e Bahia (0,76). De acordo com o estudo, essa maior vulnerabilidade significa que esses Estados terão mais dificuldades para lidar com os efeitos das mudanças climáticas sobre a saúde em geral, como endemias e problemas de saúde infantil (desnutrição e diarreias). O IVS varia de zero a 1, refletindo o grau mínimo e o máximo de vulnerabilidade.

"Quanto maior o valor do IVS de um Estado, maior a sua vulnerabilidade para a doença e menor sua capacidade de combater a enfermidade e reduzir seu impacto potencial sobre a população", aponta a pesquisa de Mudanças Climáticas, produzida pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Com o aumento das temperaturas, a tendência é que a chuva se torne cada vez mais escassa. Segundo o doutor em Meteorologia e professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), José Ivaldo Barbosa de Brito, o aumento da temperatura já é fruto do aquecimento global associado ao aquecimento local, que é provocado, principalmente, pelo desmatamento e processo de urbanização das cidades.

"O aumento de 2 graus na temperatura média histórica ocorreu nos últimos 20 anos e é considerado alto. Para se ter ideia, da última era glacial para os dias atuais, a temperatura aumentou em torno de 3,5 graus, em um período de 15 mil anos", afirmou José Ivaldo Brito. Segundo ele, a região de Sousa, no Alto Sertão paraibano, foi a que registrou o maior aumento na temperatura.

São Gonçalo, distrito de Sousa, teve um aumento de 2 graus. A sua temperatura média é de 27,5 graus. Já o município de Patos, registrou aumento de 1,5 grau, mas continua sendo o mais quente. Sua temperatura média é 28 graus, mas a máxima pode atingir 38, com sensação térmica de 41 graus", acrescentou Ivaldo Brito.


Zona da Mata com clima de Sertão


Sol escaldante, terra rachada. Crianças e adultos carregam em latas e carros de mão a água de beber. Esperam, ansiosos, pela chegada do carro-pipa, que não traz a melhor água, mas aquela que matará a sede e ajudará a atravessar a estiagem. O cenário é típico do Sertão. Há 20 anos, só seria registrado em regiões do Semiárido nordestino. Mas, hoje, é possível ser visto até em áreas da Zona da Mata, como o município de Pilar, que já sofre com a escassez de chuva, as altas temperaturas e a perda das lavouras. Pilar é um dos 130 municípios paraibanos que estão sendo abastecidos por carros-pipas por causa da seca.

"Aqui, temos áreas de Brejo e Sertão no mesmo lugar. Tem famílias sofrendo muito com a falta de água. A gente que trabalha no campo percebe que está mais quente. E o pior é saber que o homem é culpado disso, por causa dos desmatamentos e das queimadas. Todo ano, plantava 5 hectares de roça. Este ano, nem cheguei a plantar", relatou o agricultor José Fernando da Silva, 45 anos, presidente do Assentamento Nossa Senhora da Conceição, em Pilar.

"Pior será no ano que vem, porque não tem a safra desse ano pra comer. Em outros anos, eu atravessava a seca com 23 cabeças de gado. Hoje, só tenho oito e com medo danado de cair bicho de fome e sede", afirma o agricultor José Fernando, prevendo o pior. "Se o inverno aqui não chegar em janeiro e só for chover em março, só Jesus vai acudir", completa José, enfatizando que já enfrenta sete meses de estiagem.


Mudanças climáticas


As projeções climáticas apontam o semiárido como uma das áreas mais vulneráveis às mudanças climáticas no Brasil. Diminuição da frequência de chuvas, solos mais pobres, vegetação com menor diversidade biológica estão entre as previsões para a região. Alguns lugares devem se tornar inabitáveis.

Famílias sem água o ano todo

Em Pilar, famílias já estão acostumadas a conviver com a escassez de chuva. "Aqui, vivemos sem água o ano todo", revelou a agricultora Fabiana Elias da Silva, que mora no Assentamento Boa Sorte e recebe ajuda do programa Bolsa Família (R$ 134). Todos os dias, Michele da Silva, 16 anos e suas irmãs Milena, 14 e Milane, 10, ajudam a mãe Fabiana a carregar água até em casa, em baldes, latas e carros de mão.

Algumas famílias de Pilar têm cisternas em casa para armazenar a água da chuva e atravessar a seca. É o caso da agricultura Rosa Maria Costa da Silva, 37 anos. "Até a cisterna secou. A solução agora é tirar água do cacimbão", afirmou.

Em São Miguel de Taipu, município vizinho a Pilar, agricultores também perderam suas lavouras. "A chuva foi pouca este ano e não lucramos quase nada", reclamou o agricultor José Jovino de Araújo, 62 anos.


Inpe


O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Lincoln Alves, disse que vários fatores contribuíram para o aumento da temperatura na Paraíba. Segundo ele, grande parte desse aumento é fruto da urbanização. "As cidades estão crescendo e gerando 'ilhas de calor'. A tendência é que as temperaturas fiquem cada vez mais elevadas em decorrência da desertificação, que é a perda da cobertura vegetal. O que chama a atenção é que, além da elevação da temperatura no Semiárido, também houve aumento em algumas regiões da Zona da Mata", observou.

"A tendência é que, até 2100, a temperatura aumente, em média, de 3 a 3,5 graus acima da média, no mundo todo. Para o Semiárido, o aumento pode ser até maior. Mas se o mundo reduzir os gases do efeito estufa pode atenuar esse efeito. Existem alternativas para isso e uma das principais é o reflorestamento", apontou o doutor em Meteorologia da UFCG, José Ivaldo de Brito. Ele disse que, no próximo mês, haverá uma reunião sobre as mudanças climáticas globais. "Especialistas do mundo inteiro discutirão sobre aquecimento global, para tentar chegar a um acordo sobre a redução da emissão de gases do efeito estufa", informou.


PB perderá 66% das terras agricultáveis


A Paraíba perderá 66,6% de suas terras cultiváveis até 2050, segundo revela o estudo "Mudanças Climáticas, Migrações e Saúde: Cenários para o Nordeste Brasileiro, 2000-2050". A pesquisa, produzida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostra ainda que, com o aumento da temperatura, a dengue deverá aumentar, bem como doenças transmitidas pela água, como a leptospirose e as diarreias, que atingem crianças, causa milhares de internações hospitalares todos os anos e prejuízos aos cofres públicos.

Em menos de três anos (de janeiro de 2008 a agosto deste ano), a Paraíba registrou 24,2 mil internações por diarreias, leptospirose e cólera, sendo que 10,4 mil eram de crianças e adolescentes até 14 anos. Essas internações hospitalares custaram mais de R$ 8 milhões e provocaram a morte de 110 pessoas no Estado.


Um dos coordenadores da pesquisa, Alisson Flávio Barbieri, professor do Departamento de Demografia e do Cedeplar da UFMG, disse que crianças pobres e idosos serão mais atingidos pelas mudanças climáticas. Ele aponta como soluções para enfrentar essas mudanças o fortalecimento das políticas de adaptação, como investimentos em tecnologias agrícolas e novas sementes mais resistentes às altas temperaturas, em armazenamento e conservação das águas, como construção de mais cisternas, principalmente na Região do Semiárido.

"A diminuição da água vai impactar nas migrações e piorar a saúde. Então, é preciso investir mais em três áreas: agricultura, recursos hídricos e saneamento básico. A agricultura precisa ser fonte de geração de renda adaptada às mudanças climáticas e é preciso buscar novas fontes de abastecimento de água. Se as questões da água e da agricultura não forem resolvidas, teremos o aumento da mortalidade infantil, de doenças e muitas pessoas deixarão suas terras", afirmou Alisson Barbieri.


Conservação do solo


Alisson Barbieri disse que, na agricultura, é preciso adotar práticas de conservação do solo porque algumas áreas estão desertificadas pela falta de técnicas. "A previsão é termos cenários com menor oferta de recursos hídricos para o consumo humano e as atividades produtivas, inclusive para a agricultura. Então, é preciso preservar o que já tem e buscar novas fontes de abastecimento de água. Temos que saber se a Transposição do Rio São Francisco será viável nesse cenário de mudanças climáticas", colocou o professor.

Para ele, no Brasil, há condições de desenvolver projetos e não gerar uma situação de fome. "A Embrapa, por exemplo, tem investido na adaptação da agricultura", afirmou.


Mortalidade deve aumentar


Segundo o professor da UFMG, a mortalidade infantil e as doenças de veiculação hídrica, como diarreias e cólera, poderão aumentar e o custo com internações hospitalares ficará ainda mais alto. "A criança que tem muitas doenças na primeira infância, terá sérios problemas no futuro, porque crescerá com deficiências nutricionais, cognitivas e terá seu desenvolvimento comprometido. Então, essas crianças serão pessoas menos produtivas para o País. Por isso, é melhor tratar as causa das doenças, investindo em saneamento básico, do que depois assumir os custos econômicos e sociais", analisou Alisson Barbieri. O especialista explicou que as crianças, os idosos e os pobres serão mais afetados porque têm menor capacidade de adaptação, menos recursos financeiros e menor capacidade de buscar outras alternativas de sobrevivência.

O doutor em Meteorologia e pesquisador da UFCG, José Ivaldo de Brito, acrescentou que, quanto mais elevada a temperatura, mais vulnerável fica a população a algumas doenças. "Os insetos se proliferam mais nas altas temperaturas, como os mosquitos transmissores da dengue (Aedes Aegypti), malária e doença de chagas (barbeiro). Então, essas doenças tropicais também devem aumentar", comentou.


Escassez de água


Segundo o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Lincoln Alves, as projeções para 2050 indicam também que, com o aumento das temperaturas, haveria uma redução do volume de chuvas, o que não é observado ainda. "Dessa forma, as pessoas terão que se adaptar aos poucos até em relação ao modo de se vestir, como utilizar os recursos hídricos, já que a tendência é que a água fique cada vez mais escassa. As construções e prédios também terão que se adaptar. Casas deverão ser mais ventiladas, com materiais reutilizados e ecologicamente corretos, com menor impacto ambiental", afirmou, enfatizando que é preciso desenvolver projetos de desenvolvimento sustentável e capacitar as comunidades para que possam se adaptar a isso.


"É preciso captar água da chuva"

Com as mudanças climáticas, a população terá que modificar seus hábitos. Várias comunidades da Paraíba em municípios do Semiárido já desenvolvem projetos de convivência com a seca, a exemplo das cisternas para armazenar a água da chuva. Mas as iniciativas ainda são insuficientes e pontuais para enfrentar esse cenário. O pesquisador e geógrafo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Paulo Rosa, aponta soluções para atravessar a estiagem. Ele diz que o telhado de escolas, quadras de esportes e outros prédios públicos podem captar água da chuva e abastecer comunidades. Já as folhas secas das árvores podem ser usadas como alternativa para substituir a lenha consumida, principalmente, por padarias e pizzarias. O especialista alertou que é preciso captar a água das chuvas para não utilizar a água de poços artesianos porque são "águas estratégicas" para serem usadas no futuro em situação emergencial.

O geógrafo e professor de Planejamento e Gestão Geoambiental da UFPB, Paulo Rosa, disse que não acredita em aquecimento global, mas em aquecimento local de cidades e da zona rural devido, principalmente, ao processo de asfaltamento e não reposição das áreas verdes, uso inadequado da água e queimadas. Para ele, é possível usar tetos de escolas, quadras de esportes e até o calçamento de ruas para captar água das chuvas, que são mal distribuídas. Ele também concorda que é preciso construir mais cisternas para armazenar água da chuva.

"No Semiárido, a água de poço artesiano não deveria ser mexida porque é um recurso futuro. A sua retirada é um problema sério. As águas do subsolo são estratégicas e quando acabar é difícil voltar. Deveria ter aproveitamento da água de chuva nas cisternas. Além disso, as quadras poliesportivas são grandes captadoras de água. E, ainda, ruas com pequenos declives. É só captar e depois purificar. Folhas secas de árvores, de qualquer vegetal, podem ser prensadas e transformadas em matriz energética, para minimizar o problema das padarias e pizzarias que utilizam fornos a lenha", apontou Paulo Rosa.

O pesquisador fez um experimento e conseguiu captar 16 mil litros de água em dois telhados da UFPB (cada um de 50 metros de comprimento por 10 de largura), com uma chuva de apenas 16 milímetros. Para se ter ideia, os 16 mil litros daria para abastecer uma escola com 160 alunos durante um dia.


Embrapa: culturas resistentes


A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em todo o País já está desenvolvendo estudos para cultivar culturas mais resistentes às altas temperaturas. Na Paraíba, a Embrapa está realizando estudos de adaptação às mudanças climáticas, fazendo simulações de culturas que possam se desenvolver em uma temperatura com um a dois graus acima da média normal. No Estado, o órgão já conseguiu uma semente de algodão mais precoce. Ela produz com metade da água que precisaria uma semente convencional.

"O algodão se adapta bem com 600 milímetros de chuva bem distribuídos durante quatro meses. Mas a semente precoce consegue crescer, se desenvolver e produzir com até 300 milímetros. Dessa forma, vamos produzir em menos tempo, ter um melhor aproveitamento e um menor gasto da água, havendo adaptação às altas temperaturas", informou o analista da Embrapa algodão, em Campina Grande, Waltenilton Vieira Cartaxo. "Nesse cenário de aquecimento global, também existem estudos para o amendoim, gergelim, mamona, sisal e pinhão manso", acrescentou.

Segundo Waltenilton, a Embrapa Meio Norte também está desenvolvendo o arroz vermelho na região de São João do Rio do Peixe. "O chamado 'arroz da terra', como é conhecido, é mais resistente e mais adaptado ao Semiárido. Exige menos água e é valorizado", disse.


Fonte: Vitrine do Cariri
http://www.vitrinedocariri.com.br

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