Introdução
Delimitar a área compreendida entre o estuário do rio Mamanguape e o estuário do rio Camaratuba tendo como área central a Baía da Traição;
Verificar o transporte de sedimentos do rio Mamanguape;
Determinar direção e sentido da dinâmica marinha: Marés, Ondas e Correntes;
Verificar o perfil das praias e, por último,
Determinar a geometria das falésias e verificar o grau de erosão A partir desse elenco de objetivos e o problema estabelecido, as hipóteses puderam ser respondidas.
Referencial Teórico-Conceitual
A concepção de análise geográfica proposta por Olivier Dolfuss, refere-se a uma estrutura que “(...) é formada de elementos geográficos que se articulam uns com relação aos outros” (1973, p.13). No entanto, o aprofundamento requereu a ampliação das referências teóricas e técnicas. Para a compreensão geomorfológica do ambiente em estudo, Teixeira Guerra foi incisivo na contribuição de técnicas para melhor interpretação dos dados referentes à dinâmica costeira. Segundo esse autor, “Entende-se como processos costeiros a ação de agentes que provocando erosão, transporte e deposição de sedimentos levam a constante modificações na configuração do litoral” (1994, p.257).
Para uma compreensão mais apurada dos processos ocasionados pela dinâmica costeira e marinha presente na paisagem de nosso estudo, recorremos aos estudos de De Martonne (1953) e Strahler (1994). Com essas conceituações poderemos ter uma visão concreta dos processos e fatores que ocorrem nas relações dos diversos elementos presentes na paisagem, considerada frágil devido à sua dinâmica, buscando resultados onde possamos saber como planejar as necessidades que são impostas pelo ambiente ao homem e atuar de forma coesa sobre elas.
Método e Técnicas
Delimitada a área do estudo partimos para verificação em campo, visando a comprovação das hipóteses levantadas. Para essa verificação fizemos uso de ferramentas e instrumentos especializados, bem como de processos artesanais, onde constatamos alguns resultados necessários à nossa comprovação.
Primeiramente realizamos o registro fotográfico da área em períodos diferentes, para os quais tomamos como parâmetro a amplitude das marés. Assim sendo, realizamos um primeiro registro em fevereiro de 2002, quando foi observado o ponto mais alto e o ponto mais baixo da maré de sizígia. Neste período, na preamar, foram verificados os pontos onde estavam ocorrendo erosão, bem como os pontos de acumulação dos sedimentos. Partindo dessa observação, foram determinados dois pontos centrais para observações posteriores, os quais denominamos de ponto de observação A e ponto de observação B, considerando o sentido da corrente de deriva litorânea naquele local de Norte - Sul. O ponto de observação A corresponde à Ponta da Trincheira, onde notamos a ocorrência do processo de progradação. O ponto de observação B corresponde a um ponto próximo ao centro da enseada, em que segundo nossa observação, está ocorrendo o processo de erosão.
Ocorreram mais duas excursões ao campo, no mês de agosto no intervalo de uma semana para outra. Na primeira, observamos e marcamos os melhores locais para a coleta de dados que nos forneceram subsídios para comprovação ou refutação desses dados decidimos por um retorno na semana seguinte, onde fizemos um levantamento apurado da área e dos dados referentes à dinâmica costeira presente na Baía da Traição.
Os dados referentes, às coletas foram os seguintes: perfil de praia, localização pelo GPS; dados relativos ao vento, como a velocidade e direção. Quanto às ondas coletamos de forma artesanal a altura e velocidade; quanto à maré foram feitas observações nas quais constatamos que a direção podia ser feita pela disposição e movimento das embarcações ancoradas em frente à enseada, sendo feito mais um registro fotográfico definindo os principais elementos e fatores responsáveis direta e indiretamente por suaves modificações na enseada da Baía da Traição, dentre os quais incluem-se as correntes marinhas, as ondas, as marés, a erosão, os recifes, os sedimentos, o clima e as ações antrópicas. O método da análise nos fornece subsídios para que a pesquisa se consolidasse de forma mais prática e confiável possível.
Usamos técnicas simples e avançadas, ligada ao nosso objeto de estudo, tais como a utilização de bibliografia especializada em morfologia costeira, foram utilizadas cartas topográficas da SUDENE:
Araçaji, Folha – SB, 25-Y-A-V-3-NE, Baía da Traição Folha– SB. 25-Y-A-VI-SO, Barra de Mamanguape Folha – SB, 25-Y-A-VI-3-NO, Guarabira Folha – SB, 25-Y-A-V-3-NO, Itapororoca Folha – SB, 25-Y-A-V-4-NO, Rio Tinto Folha – SB, 25-Y-A-V-4-NE
Carta 1/100 000, Ano 1972:
Guarabira, Folha – SB-25-Y-A-V
Carta Imagem Radar 1/250000, Ano 1975/1976:
Guarabira Folha – SB.25-Y-A, MIR208,
João Pessoa Folha – SB.25-Y-C, MIR 235
Caracterização fisiográfica elementar do compartimento litorâneo em estudo
A inatividade abrasiva do mar na base da falésia é decorrente de uma progradação constante da acumulação de material sedimentar aí depositado, fazendo com que o continente avance sobre o mar. Esse depósito sedimentar tem normalmente sua origem na desagregação do material acarretado pelas intempéries na superfície continental e transportada pelos rios até ao mar. A sucessão de formas geométricas na zona costeira (ver Fig.1) tem como fonte genética a relação de forças entre a ação abrasiva do mar e a resistência do continente, e nesse caso há também a contribuição das atividades do homem.
ativas (ver Fig. 3).
O rio Mamanguape tem sua nascente aproximadamente a 584m de altitude, na Lagoa Salgada, entre a cidade de Remígio e a Vila Cepilho percorrendo até a foz 165 km. Esses dados foram retirados da Imagem de Radar, de João Pessoa e Guarabira 1/250000. A área do entorno do rio, desde a sua foz até à sua nascente tem sido fortemente ocupada nos últimos séculos, e essa situação tem acarretado conseqüências para os solos próximo às margens do rio, pois a ocupação sócio - econômica tem sido caracterizada por situações tradicionais, como por exemplo o cultivo nas áreas com declividade superior às planuras, ou seja maior que dois graus de inclinação, tais cultivos não acompanha as curvas de nível, ocasionando assim, no período de precipitações pluviométricas de elevada magnitude, perda acentuada de solo para o leito do rio. Inevitavelmente o material sedimentar depositado no rio será transportado dos níveis de maior energia para os de menor energia, nesse caso, próximo ao nível do mar.
A erosão no rio em relação ao seu perfil longitudinal será regressiva (ver Fig. 4), pois as áreas de maior energia estarão sempre determinando o comportamento do rio de montante para jusante. No entanto, a erosão em relação ao perfil transversal será oportunamente determinada pelo elemento de resistência nas bordas do rio. Caso haja vegetação, esta será um elemento responsável por essa resistência. Se esses indivíduos foram retirados, a resistência da borda será diminuída intensamente, permitindo que o material lateral nas margens seja retirado e conseqüentemente carreado para o interior do rio, sendo então transportado pela turbulência.
Os sedimentos, ao atingirem o mar, não são projetados para além dos recifes, fato esse que também pode ser observado na imagem (ver Fig. 5), pois a corrente de deriva, que possui sentido norte, arrasta o material sedimentar para as enseadas a jusante da foz do rio em direção à cidade da Baía da Traição, formando nessas áreas a planície costeira com praias bem ativas progradando ou retrogradando o ambiente continental. Sendo esses sedimentos um dos elementos mais atuantes e responsáveis pelo equilíbrio que sofrem as feições praieras do lugar observado, vale ainda destacar que esse material sedimentar se origina, em muitos casos, de processos de erosão distante do mar, e que por rolamento fluvial acaba sendo deslocado de montante do rio para jusante, sendo um agente fomentador da progradação continental por deposição continuada nas áreas costeiras, e no nosso caso às enseadas que sucedem à foz do rio Mamanguape até a enseada da Baía da Traição.
Sendo a bacia hidrográfica do rio Mamanguape (ver Fig. 6) responsável pelo fornecimento de sedimentos das enseada da Baía da Traição, lembramos que as bacias hidrográficas são bacias naturais de erosão, ou seja, área-fonte da maioria dos sedimentos estabelecidos na enseada da Baía da Traição. Esse processo tem início principalmente com a erosão pluvial que ocorre nas encostas da bacia hidrográfica do rio Mamanguape, sendo que esse processo natural é atenuado pela cobertura vegetal. Porém, pode e tem sido alterado a partir das práticas de cultivos agrícolas, principalmente a atividade intensa da agroindústria canavieira. Essas práticas, para serem estabelecidas, recorrem inicialmente à retirada da cobertura vegetal nativa para então fazer a substituição por culturas homogêneas, assim o solo acaba por ficar desnudo também pela remoção da serrapilheira a partir desse conjunto de atividades. Quando ocorre a precipitação pluvial de elevada magnitude, o solo exposto é desagregado pela ação impactante da chuvas acontecendo o transporte desse do material sedimentar que chega ao rio e por ele é transportado até ao estuário a foz do rio e daí para o mar, sendo então nesse momento, transportado pela corrente de deriva até a enseada da Baía da Traição, configurando as feições da paisagem local.
Dinâmica marinha: conjuntos e elementos que contribuem para a estrutura da feição da linha litorânea na Baía da Traição
Segundo De Martonne, os movimentos dos oceanos se dão de duas espécies: “uns as vagas e as marés – não são, em principio, deslocações de massa, mas movimentos rítmicos ondulatórios; pelo contrário, outros – as correntes marinhas – são essencialmente deslocações” (DE MARTONE, 1953, p.323).
O elemento marinho mais visível e atuante para o observador leigo é a onda. Esse elemento é denominado de movimento das águas do mar que quebram na praia em um movimento sempre repetitivo que os olhos percebem apenas na linha de praia, sem imaginar que sua origem é bem mais distante.Poderíamos dizer que uma onda é uma forma de propagação de energia que corre na superfície da água, profunda e rasa. De acordo com Strahler:
Las olas en aguas profunda Las olas de los océanos y lagos están producidas por los vientos(...)Las olas en aguas poco profundas A medida que las olas se aproximan a esta zona de escasa profundidad,llega el momento en el que el movimiento orbital de las mismas queda alterado por el rozamiento con el fondo (STRAHLER, 1989, p.330-331).
São diversas as fontes que dão origem as ondas, desde abalos sísmicos marinhos, movimento das marés e as ondas mais comuns na costa que são produzidas pelo vento. Uma onda pode atravessar um oceano e revelar-se quando encontra um fundo de costa rasa que tem influência direta e proporcional quanto ao seu tamanho, no qual ela vai apresentar a energia contida nela. Na viagem, do ponto de origem ao ponto de arrebentação ela pode passar por uma embarcação com poucos centímetros na qual apenas um leve balanço vai ser sentido, ao contrário de uma costa onde, com ajuda do vento e de acordo com a velocidade, direção e o relevo marinho do ambiente dão uma determinada configuração no tipo de onda que se forma. As ondas, conforme Turekian, podem ser geradas:
Em um corpo de água, como uma piscina ou lago através de um dos dois procedimentos: atirando- um seixo na água, observa-se que, a partir do ponto de impacto, desenvolve-se um padrão de ondas concêntricas (...) nos oceanos processos similares atuam para originar as ondas (TUREKIAN, 1969, p.110).
O corpo de uma onda está dividido entre crista e cava, sendo a crista a parte mais alta onde se forma uma espuma antes de se quebrar na praia, e a cava é a parte mais funda ou inferior da onda, e para fazer a descrição da onda tomamos a altura, o comprimento, velocidade e período. Nesse estudo, os principais tipos de onda detectados são aquelas geradas pela ação do vento e também pelo movimento das marés, sendo essas de pouca monta devido ao relevo marinho que apresenta sem rugosidade e com pouca profundidade.
Ao longo da enseada na cidade da Baía da Traição, que tem seu início na Ponta da Trincheira estende-se até a praia de Giz Branco, percebemos diferentes tipos de ondas, isso em se tratando de tamanho, freqüência direção, entre outros elementos. A observação está pautada em dados que foram coletados apenas em pontos específicos, porém a medida em que aumenta a distância dos recifes, a configuração do tipo de onda se altera. Ou seja, quanto mais ao norte da Ponta da Trincheira e dos recifes há refração, e nesse sentido a altura e o padrão da onda se modifica, lembrado que ao norte encontram-se também as falésias onde em alguns pontos isolados e mais avançado pro mar existe uma suave abrasão marinha. Apenas na Praia do Giz Branco é que existem falésias ativas.
Ao longo da enseada os obstáculos são sutis para que possam alterar a configuração das ondas. Possivelmente os fatores atuantes como os perfis das praias que não se alteram bruscamente, subtendendo-se que apenas a influência direta dos recifes e das correntes marinha que atingem diretamente a costa, são os principais agentes de alteração do comportamento das ondas.
Para veracidade das observações sobre a dinâmica marinha, foram feitas diversas medições das ondas, considerando altura, velocidade e comprimento. A observação foi realizada de forma amostral em termos de tempo, pois foi realizada em apenas um dia no mês de agosto de 2002, especificamente no dia 8 às 15:40hs. Nesse dia a maré alta estava prevista para às 16:24hs que possivelmente atingiria a altura de 2.3m, tomando por base a Tábua de Maré do Porto de Cabedelo (ver Gráfico 1).
Quando a onda chega à zona de arrebentação, ela varia o ângulo devido à corrente de deriva litorânea e de acordo com o local onde ela vai quebrar. Logo após a Ponta da Trincheira seguindo sentido Norte, ela atinge de frente a praia, mas ao meio da enseada ela atinge a praia com um ângulo variado, onde se pode verificar também através da observação de cima das falésias toda a enseada, e observando claramente o processo de refração das ondas (ver Fig. 7) e o funcionamento desse processo atuante.
Esta força resultante varia em cada ponto geográfico, à medida que a lua gira em torno da Terra, e tende a mover a superfície da Terra, modificando-a até o equilíbrio. A Terra, apesar de sua rigidez, responde sutilmente a essa força, produzindo as marés (TUREKIAN, 1969, p.109).
Seguindo as fases da lua conseqüentemente seguimos as oscilações da maré. No entanto é conveniente salientar que as marés de altura máxima são chamadas maré de sizígia, e tem sua presença nos períodos em que ocorrem as fases de lua cheia ou nova e normalmente no período entre o solstício de janeiro ao equinócio de março. E o ponto de menor oscilação é denominado de quadratura, tendo sua ocorrência nos períodos em que a lua está no quanto minguante ou no quarto-crescente. As marés no seu ponto maior são denominadas de preamar, e no ponto mais baixo de baixar-mar, oscilando temporalmente entre uma e outra, em torno de 6h e 12’, por isso há marés altas diurnas e também noturnas.
As amplitudes das marés que são a diferença entre a máxima e a mínima, podem ser verificadas no mesmo dia. De Martonne Considerando que “a acção combinada dos dois astros, explicar facilmente a periodicidade mensal de acordo com a rotação da lua em torno da Terra” (DE MARTONNE ,1953, p.331).
Para interpretação do movimento desse agente pertencente à dinâmica costeira no cenário em estudo, definimos o período de agosto de2001 a agosto de 2002 enquanto intervalo de tempo para observar melhor o movimento senoidal das amplitudes e para isso tomamos como base a Tábua de maré referente ao Porto de Cabedelo.
Levamos em conta a informação verbal do Profº Eduardo Pazera no sentido de testar a verdade desta Tábua de marés pois, apesar de sua relativa proximidade, podem ocorrer diferenças significativas de altura e horário das marés em função de peculiaridades locais. O teste consiste em observar se os horários e alturas coincidam com a base na colocação de estacas na Praia de Baía da Traição marcando o ponto mais alto da maré e comparando com a Tábua de Cabedelo.
O balanço oscilatório das marés, juntamente com as ondas, também se reflete na acumulação de sedimentos que ficam retidos temporariamente sobre os muros de arrimo que foram construídos para deter o avanço do mar. Relacionandos os gráficos e as fotos, pudemos fazer uma aproximação diagnóstica, indicando que há uma relação entre os fatores pertinentes à dinâmica costeira atuante e o intervalo de tempo no cenário observado.
É conveniente salientar que na construção do gráfico foram determinadas apenas as alturas máximas e mínimas de cada mês correspondente, lembrando ainda que em alguns meses as marés altas foram de baixa freqüência, e em outros meses a freqüência dessa maré foi maior. Tomamos ainda como exemplo, os meses de março de 2002 e julho de 2002, sendo registrado em março 8 dias com maré acima de 2.4m, inclusive como a mais alta do ano que chegou a registrar 2.7m, enquanto isso em julho apenas duas marés 2.4m (ver Gráfico 2). Essa relação, nesse período, mostra o comportamento do fenômeno da maré.
As praias locais, originadas por ações flúvio-marinha e pelas correntes de deriva litorânea sul-norte, influenciadas pelos Alísios de SE (...) um paredão retilíneo paralelo a costa, estende-se por mais de 5Km, de modo continuo, desde a barra de Mamanguape ate a altura da Praia de Coqueirinho na margem norte do estuário, e daí em diante continua em alinhamento descontinuo, por mais de 6KM, ate a Baía da Traição. A grande quantidade de aporte de sedimento arenosos por rios locais, como o Mamanguape, tem expressiva significação na evolução destas praias (TRAVASSOS, et al,1992, p.5).
Sabemos que os sedimentos servem de equilíbrio para as feições das praias, assim podemos ter excesso ou falta de sedimentos. No caso essa dinâmica acaba provocando um desequilíbrio e conseqüentemente um processo de erosão ou progradação, já que na cidade da Baía da Traição foram detectados os dois processos na paisagem, o que nos leva a observar sistematicamente esse processo dinâmico para então fazer algumas inferências relativas à gestão do cenário em voga.
Em excursão ao campo com o objetivo de coletar os dados, constatamos grande número de Rhizophora mangle, colaborando assim com o nosso estudo já que o ambiente natural da Rhizophora mangle é ambiente estuarino e de mangue. Segundo o Prof. Paulo Rosa em uma explicação oral presente no local do estudo, “Rhizophora mangle estava em processo de colonização, pois fora transportada pela corrente de deriva do estuário do rio Mamanguape”. A colonização dos indivíduos oriundos dos manguezais fora encontrada em grande aglomerado no ponto onde está ocorrendo a progradação (ver Fig 8, 9 e 10).
No entanto, na maré alta, época em que foi feita a observação, a intensidade e a força do vento eram bem nítidas. As casas situadas à beira mar sofrem os riscos periódicos quando a maré em seu ponto máximo, assim como as onda, chegam a invadilas. Esse evento atuante de forma constante obriga os moradores a construírem muros de arrimo devido à vulnerabilidade do local a partir da dinâmica presente dos agente naturais.
Ainda observando os movimentos que se estabelecem na área próxima a linha da costa, a corrente que está evidenciada em nossa área de estudo e que tem função de transportar, acumular e retirar material aportado nas praias é a corrente de deriva litorânea, e corre paralelamente ao lado da costa. Sua origem é devido em grande parte pela quebra da onda que atinge a costa em um ângulo oblíquo. Onde também encontra um fundo raso; conseqüentemente, a onda agita as partículas de sedimentos, fazendo com que fiquem em suspensão e sejam transportados ou depositados na praia. De acordo com a velocidade da corrente de deriva litorânea ela também pode selecionar o material que está em suspensão.
A direção da corrente de deriva que atua em nossa área de estudo está na direção S–N, transportando os sedimentos originários do estuário do rio Mamanguape. Esse sedimentos vão se depositando ao longo da enseada que antecede a enseada da Baía da Traição. Ao longo de todo esse percurso, a corrente de deriva litorânea é acompanhada por uma linha de recifes que barra os sedimentos ao chegar na Ponta da Trincheira, único ponto de contato da linha de recifes com o continente (ver Fig. 11). As correntes marinhas propriamente ditas formam “uma verdadeira circulação, que modifica o estado físico e químico da massa oceânica e cuja a influência se faz sentir ate no clima dos continentes” (DE MARTONE, 1953, p.333).
Até agora foram referenciados os elementos pertinentes ao movimento marinho observado de forma visível aos nossos olhos, porém, de agora em diante evidenciaremos um elemento litólico no mar que são os recifes e estão presentes e atuantes na área em estudo. A linha de recifes é um diferencial importante, já que está interferindo diretamente em todo o processo de progradação e erosão da linha de costa na cidade da Baía da Traição. Segundo Carvalho
As Formações Recifais que aparecem na sub - zona marítima, são comuns na costa paraibana, com bons exemplos nas praias de Tambaú, Bessa, Cabedelo, Barra de Mamanguape e Baía da Traição (...) Aparecem no Estado, os tipos areníticos e coralígenos (CARVALHO, 1982, p.18).
Boa parte dos sedimentos que são lançados pelo rio Mamanguape é retida pela linha recifal que se transforma em uma espécie de desvio natural no qual esses sedimentos ficam retidos. Seguindo a corrente de deriva litorânea no sentido N, ficando retida e acumulando-se nas enseadas, os recifes aparentemente têm duas funções: a primeira é barrar as correntes marinhas, protegendo o cúspide que é a Ponta da Trincheira e, conseqüentemente a cidade. A segunda função é canalizar boa parte dos sedimentos que são lançados pelo rio Mamanguape para as enseadas, mas quando esses sedimentos chegam a Ponta da Trincheira aí se acumulam, devido ao canal que é formado pelos recifes e pelo continente, ou seja, pela Ponta da Trincheira (ver Fig. 11), Esse canal só é rompido na maré alta.
Quando as marés não têm uma grande amplitude, ou seja, as de quadratura, ocasionam uma acumulação dos sedimentos na Ponta da Trincheira ou cúspide, fazendo com que ocorra uma déficit de sedimento na enseada a jusante dessa Ponta. No entanto, quando ocorrem marés de grande amplitude o processo é inverso e os sedimentos passam a ficar acumulados na enseada. Esse balanço oscilatório causado pelas marés, correntes e ondas é bem visível durante determinado período do ano, percebendo-se através de referenciais urbanos. Nesse caso, nos muros de arrimo das residências instaladas à beira mar, o indicativo é que esses muros ficam soterrados em uma época para depois aparecerem (ver Fig. 13, 14 e 15).
Com esses dados verificamos que a atuação do vento é mais intensa na área da progradação, onde possivelmente seja um dos fatores responsáveis pelo acúmulo desse sedimento, enquanto na área da erosão o vento de 3 m/s é equivalente na tabela de Beaufort ao número 3, ou seja, uma brisa leve indicando que o processo de erosão é predominantemente ocasionado pela ação marinha.
A geometria do relevo no domínio litorâneo na Baía da Traição: falésias e o perfil das praias enquanto elos vulneráveis na dinâmica costeira
Conclusão
Evidências encontradas na enseada da Baía da Traição incluem as Rhizophora mangle, uma planta de ambiente estuarino. O ambiente estuarino mais próximo é do rio Mamanguape, foram encontrada em nossa área de estudo um grande número desta planta, fixadas na altura do berma, onde podemos verificar a origem dessa planta possivelmente é a origem dos sedimentos.
O sentido da corrente de deriva litorânea S-N juntamente com os recifes presente no local e os faz com que os sedimentos originários do rio Mamanguape sejam direcionados para Ponta da Trincheira onde aportam e ficam retidos, causando um aporte negativo no restante da enseada provocando o processo de erosão.
Quando a ação da dinâmica costeira atua sobre esse ambiente de vulnerabilidade ocorre um ciclo que podemos ver claramente em determinado período do ano, quando o aporte de sedimentos é mais intenso chegando a cobrir muros de arrimos construídos por moradores para impedir o avanço do mar e causar danos maiores ao patrimônio daqueles que ali residem.
Possivelmente devido as evidencias encontradas na área de estudo temos que nos remeter para o futuro, onde mesmo sendo um processo natural está se fomentando mudanças significativas na paisagem local.
Lançando uma proposta mais coerente, visando uma melhor preservação da área deve-se incluir um planejamento geoambiental, onde poderíamos obter mais subsídios para fazermos uma análise mais aprofundada do comportamento desse ambiente a fim de diagnosticar possíveis eventos que venham a comprometer a integridade do patrimônio publico ou privado através de uma gestão baseada em dados sérios e confiáveis. Desse modo, pode-se evitar a ocupação indevida em áreas de grande vulnerabilidade, pois, geralmente, a especulação imobiliária não busca entender o processo natural.
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