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quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

UFPB quer reaproveitar água da chuva




UFPB QUER REAPROVEITAR ÁGUA DA CHUVA. ESTUDO VAI EVITAR AGRESSÕES À NATUREZA



Que água é vida, todo mundo sabe. Ela compõe mais de 70% do corpo humano, é considerada a maior riqueza do planeta, tanto que, em um futuro breve, estudiosos afirmam que será mais disputada que o petróleo. Para a água tratada chegar às nossas torneiras da Companhia de Água e Esgoto da Paraíba (Cagepa), custa em média entre R$ 10,56 (tarifa social) e R$ 17,90 (tarifa normal) até dez metros cúbicos de água, o que equivale a dez mil litros.








Mas a água da chuva é de graça, só que ela escorre pelo ralo em questão de segundos. O reaproveitamento da água da chuva já é objeto de planejamento em João Pessoa, no Campus I da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que gasta seis mil metros cúbicos de água por mês, o equivalente, em valores monetários, a R$ 60 mil por mês. A idéia, com o projeto, é reduzir essa conta em cerca de 50%, segundo estimativa da Prefeitura universitária.

A água poderia ser utilizada para atividades como irrigação de jardins e para uso em banheiros, onde ocorrem os maiores gastos. O estudo ainda está em andamento, mas já se sabe que deve beneficiar também, a princípio, pelo menos três cidades do Cariri paraibano - Ouro Velho, São João do Tigre e Camalaú - que sofre com as estiagens na maior parte do ano e chuvas muito concentradas.

Ao contrário do litoral, onde a precipitação é regular, pois chove o ano todo, no Cariri é irregular, chovendo apenas uma parte do ano. "Quando formos para o Cariri, muito seco, temos que ir com o maior número possível de probabilidade de dar certo", disse Rosa. A expectativa é do geógrafo Paulo Rosa, da UFPB, que lidera o grupo responsável pela pesquisa, e informou que a universidade quer propor parcerias com esses municípios.

A intenção, em João Pessoa, é captar a água da chuva que cai em superfícies impermeabilizadas do Campus I, locais onde há edificações verticais (prédios), ruas calçadas, estacionamentos e outros tipos de infra-estrutura que ocuparam o solo natural da universidade, impermeabilizando-o, e reverter essa água que escorreria literalmente pelo ralo, pelos bueiros, para as torneiras da própria instituição, o que significaria uma economia de quase R$ 30 mil por mês para a universidade, já que ela hoje desembolsa R$ 60 mil por mês, segundo informou o prefeito universitário da UFPB, o engenheiro Antônio Borba Guimarães. Com o êxito do projeto no campus, o protótipo poderá ser desenvolvido no Cariri paraibano.

O projeto parte do seguinte princípio: uma área de um metro quadrado (1 m²) recebendo um milímetro (1 mm) de chuva, dá um litro de água por segundo, conforme cálculo do geógrafo Paulo Rosa. A pesquisa nasceu em 1998, durante um longo período de estiagem. No protótipo estudado, em março de 2003, em uma área de 1.000 m², em um intervalo de uma hora de chuva, registrou-se uma precipitação de 16 mm, o que deu 16 mil litros de água. Em outra ocasião, no dia 16 de junho de 2003, choveu 140 mm, o que deu 140 mil litros de água por 1.000 m². A quantidade de água que cai sobre as áreas edificadas no campus I está sendo calculada pela equipe, inclusive com a realização de novas fotos aéreas.

O prefeito universitário Antônio Borba Guimarães disse que o reitor Rômulo Polari já acenou positivamente em relação à implementação do projeto, mas só deve ocorrer a partir do próximo ano. Segundo Borba, com a implementação do projeto, com a economia advinda do aproveitamento das águas, em cerca de 12 meses a universidade já terá o retorno do investimento.



ESTUDOS

O trabalho com vistas ao reaproveitamento da água da chuva está em nível de estudos, de planejamento, na busca de uma forma de captar a água das chuvas, canalizá-la e armazená-la. O geógrafo Paulo Rosa disse que uma das possibilidades é construir um pequeno reservatório dentro da área da universidade, mas na parte externa da cidade universitária, próximo ao riacho Timbó, com a construção também de cisternas.

Entretanto, para isso, é preciso fazer estudos topográficos, fotografias aéreas verticais do espaço, realizar cálculos, ir a campo com metodologias simples de medição e transformar tudo em uma planta sobre a intervenção humana na natureza, bem como os cálculos de quanto de chuva (em milímetros) cai em determinada área (em metros), e qual o volume de água (em litros) que pode ser aproveitado no processo. Nisso, é estudado inclusive, através de diagramas topográficos, o destino natural da água, ou seja, para onde ela escorre, para evitar agressões ambientais com mudanças drásticas na natureza.

O campus está sobre uma área circundada pelo riacho Timbó e pelo rio Jaguaribe. Grande parte ou praticamente toda a água que se precipita sobre o campus, vai para o riacho Timbó, que por sua vez vai para o rio Timbó, e posteriormente desemboca no rio Jaguaribe. Uma vez desviada a água da chuva, com os sedimentos que ela transporta consigo ao tocar a superfície do solo, esse cenário pode sofrer mudanças, e são esses efeitos que também estão sendo estudados, pois qualquer intervenção humana, altera o ritmo sistêmico do ambiente.

"Estamos analisando qual a melhor maneira de captar a água para ser utilizada", disse o prefeito, o engenheiro Antônio Borba. Ele acredita que a construção de um reservatório não seria a melhor forma porque demandaria a devastação de uma área de vegetação. "Estamos dentro de uma reserva de mata atlântica, que talvez não permitisse esse represamento em um reservatório", avaliou o engenheiro.

Mais uma alternativa seria a escavação de poços. Ele explicou que o solo da UFPB está sobre uma camada de calcário que retém a água que vem da superfície, ficando armazenada em um lençol freático. "Então se adotássemos um sistema de sumidouros, poderíamos canalizar a água de volta para a superfície, para uso pela universidade", explicou Borba. O acesso a essa água seria através da escavação de poços.



ESTUDOS NO TIMBÓ

Os estudos do grupo de pesquisadores constatou que a cabeceira do riacho Timbó desceu mais de 100 metros em relação ao que era originalmente. De acordo com o geógrafo, professor Paulo Rosa, a causa é a expansão dos bairros Bancários e Água Fria. Isso significa que o lençol freático desceu e isso causa alterações no comportamento vegetacional nas encostas e na mata ciliar, que fica enfraquecida nas cabeceiras.

Trata-se de uma cadeia de causa e efeito. A impermeabilização altera o lençol freático. "É sinal que a água que vinha antes, para a bacia, foi desviada para outro lugar por causa da impermeabilização do solo. E elo mais frágil que temos hoje é a cabeceira dos rios e riachos", reconheceu o professor.

A construção de um reservatório para manter a área com água, segundo o geógrafo, é uma forma de minimizar os efeitos desse fenômeno, porque "todo rio vai em busca do mar", por isso a tendência é a cabeceira baixar cada vez mais.

Apesar de pioneiro na Paraíba, o projeto não é nenhuma novidade, mas só está acontecendo verdadeiramente nos últimos 20 anos. O aproveitamento da água já é uma questão presente em algumas cidades brasileiras. Em algumas áreas do interior, existem cisternas, que é o resultado do acúmulo da água nos telhados das casas. Mas para que o projeto dê certo, é preciso também implementar um trabalho de coleta seletiva do lixo, para que ele não contamine a água que será reaproveitada. "É preciso uma maior cientificidade no processo da canalização da água. E como seria isso? Todo mundo aprender a fazer os cálculos, que são simples", disse o professor Paulo Rosa.



EXPANSÃO DA UNIVERSIDADE REQUER TÉCNICAS PARA O REAPROVEITAMENTO

As áreas impermeabilizadas dentro do Campus I da UFPB vêm aumentando com a expansão de áreas edificadas. Dados de 2007 mostram que o Campus I da UFPB tem edificações verticais na ordem de 15 hectares, mas contando com outros espaços, como ruas, estacionamentos, quadras, chega a aproximadamente 60 hectares, segundo o geógrafo Paulo Rosas. A área total da cidade universitária, onde está sendo concentrado o estudo, gira em torno de 110 hectares, inseridos na área total da UFPB, que chega a mais de 140 hectares.

Essa área edificada vem crescendo devido a uma determinação presidencial, que visa a aumentar o número de vagas nas universidades. São exemplos desse aumento de áreas impermeabilizadas dentro do campus edificações recentes em setores como o Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) e o Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN).

O professor Paulo Rosa acredita que a área com edificações verticais que era de 15 hectares, em 2007, deve ter aumentado para quase 18 hectares, atualmente. "E com áreas com calçamento, estacionamento, isso chega a quase 60% do perímetro da cidade universitária", acrescentou.

A impermeabilização do solo traz consequências negativas para as áreas que recebem as águas pluviais (da chuva). Ela direciona as águas para as regiões que não estão edificadas, causando uma carga maior nessas áreas concentradas e provocando alagamentos.

Mesmo assim, Rosa afirmou que, hoje, no campus I, a área verde está maior que a área edificada, e serão feitos estudos para quantificar isso. "O reitorado está conseguindo ampliar o número de árvores. Só no último inverno, foram plantadas quase 1.000 árvores na cidade universitária", informou Rosa.



Fonte: Jornal da Paraíba, por Aline Lins em 23.11.2008
[retirado do site http://www.espacoecologiconoar.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=8533&Itemid=1]


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